Adotámos, em 2020, as recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD1), num processo de melhoria contínua da identificação, da avaliação e da gestão dos riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas na nossa cadeia de valor. Com o objetivo de reduzir os impactes da nossa atividade no ambiente, definimos um Plano de Transição Climática2 que traduz a nossa ambição de contribuir para limitar o aumento da temperatura média global a 1,5ºC. Este plano define a nossa ambição em matéria de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) geradas nas nossas operações e na cadeia de valor através de uma colaboração próxima com os nossos fornecedores. Em paralelo, continuamos a trabalhar para melhorar a análise de riscos climáticos de curto, médio e longo prazos em toda a nossa cadeia de valor, envolvendo os nossos fornecedores de Marca Própria e perecíveis, com o intuito de aumentar a resiliência climática da cadeia de abastecimento e avaliar oportunidades de negócio na produção primária e na utilização de tecnologias de baixo carbono. Em 2023, a avaliação e gestão de riscos climáticos focou-se 1) na identificação de medidas de mitigação e adaptação implementadas por fornecedores das principais commodities, como café, fruta e legumes, carne e ração animal; e 2) na melhoria da avaliação de riscos específicos como o impacte da subida do nível das águas do mar nos portos marítimos e nos locais onde temos estabelecimentos, ou no potencial da escassez de água nas atividades da Jerónimo Martins Agro-Alimentar (JMA).
Governo
A estratégia de descarbonização e gestão dos riscos climáticos é acompanhada e apoiada pelo Conselho de Administração, garantindo que os temas relacionados com o clima são integrados na nossa estratégia corporativa, nomeadamente na estratégia de sustentabilidade, tanto nas operações próprias como na cadeia de abastecimento. O Conselho de Administração supervisiona as obrigações sociais e ambientais do Grupo, incluindo assuntos relacionados com o clima, e é responsável por acompanhar o progresso dos nossos compromissos ambientais.
Os temas relacionados com riscos e oportunidades climáticas são trabalhados nas reuniões regulares dos Comités de Sustentabilidade de cada uma das Companhias e na Comissão de Governo da Sociedade e de Responsabilidade Corporativa3, que suporta o Conselho de Administração avaliando e submetendo as propostas de orientação estratégica no domínio da responsabilidade corporativa. Nestas incluem-se a mitigação e adaptação às alterações climáticas e as metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa definidas no Plano de Transição Climática.
Adicionalmente, os riscos associados às alterações climáticas são também abrangidos pelo sistema de gestão de risco do Grupo Jerónimo Martins, tal como referido no capítulo “Governo da sociedade”, deste relatório, e consequentemente monitorizados e geridos de forma atenta pelos diferentes órgãos e funções referidos no ponto 52. da “Subsecção III – Controlo Interno e Gestão de Riscos”.
As questões relacionadas com o clima são fundamentais para a nossa estratégia de responsabilidade corporativa, estando integradas na nossa estratégia de negócio. A implementação dos nossos compromissos climáticos é sustentada por investimentos contínuos, com ciclos de execução alinhados com o plano de negócios. São exemplos desses investimentos a instalação, em 2023, de sistemas fotovoltaicos para autoconsumo de eletricidade renovável na Polónia, em Portugal e na Colômbia, o uso de gases de refrigeração naturais nas instalações e equipamentos de refrigeração e congelação, e os custos adicionais de OpEx (sigla que se refere a despesas operacionais) para a aquisição de eletricidade renovável certificada para alimentar as nossas operações em Portugal e na Polónia. O cumprimento de objetivos relacionados com o clima e outros objetivos de responsabilidade corporativa fazem parte do esquema de incentivos dos colaboradores em funções que influenciam a definição e/ou implementação dos compromissos e metas climáticas da empresa4.
Estratégia
A identificação e avaliação dos riscos e oportunidades financeiros associadas às alterações climáticas abrange toda a nossa cadeia de valor em quatro fases distintas: produção, processamento, logística e estabelecimentos. Na primeira avaliação, realizada em 2020, foram selecionados os 30 grupos de produtos mais relevantes para as nossas Companhias na Polónia, em Portugal e na Colômbia. Para cada grupo de produtos foram identificados os principais ingredientes e origens, tendo sido analisado, para cada um deles e para cada uma das fases da cadeia de valor, diferentes categorias de riscos físicos e de transição para horizontes temporais até 2030 e 2050, com base em dois cenários climáticos IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change):
- aumento da temperatura média entre 4,0ºC e 6,1ºC (cenário RCP 8.5), assumindo que os esforços para limitar o aumento da temperatura média falham;
- aumento da temperatura média abaixo dos 2,0ºC (cenário RCP 2.6), em linha com o assumido no Acordo de Paris.
Como resultado do trabalho colaborativo entre vários departamentos das Companhias e da interação com os fornecedores, o número de produtos considerado na nossa avaliação de risco aumentou para 45 em 2023, com a integração de produtos com grande dependência das condições meteorológicas e, por isso, mais expostos às alterações climáticas (ex., maçãs e peras).
Riscos e oportunidades climáticas
Entre os riscos avaliados estão o aumento da temperatura média e temperaturas extremas, mudança nos padrões de precipitação, escassez prolongada de água e inundações em regiões costeiras e interiores.
No âmbito da estratégia definida no nosso roteiro de gestão de riscos e oportunidades climáticas, em 2023, a avaliação dos riscos climáticos teve como principais objetivos:
- identificar e avaliar o grau de maturidade das medidas de mitigação e adaptação implementadas por fornecedores de Marca Própria de ingredientes específicos, como carne bovina, café, fruta e legumes, entre outros;
- identificar riscos climáticos e oportunidades de negócio para produtos perecíveis, nomeadamente para a produção de fruta, legumes e carne;
- avaliar o impacte da escassez de água em produtos de Marca Própria e perecíveis e identificar boas práticas de gestão da água implementadas nas operações da JMA e na cadeia de abastecimento;
- avaliar o risco de subida do nível da água do mar considerando todos os portos marítimos a nível mundial utilizados pelas transportadoras de mercadorias a quem recorremos;
- analisar os planos de ação climática para os países com portos marítimos em risco devido à subida do nível do mar;
- identificar ferramentas mais precisas para avaliar, em diferentes horizontes temporais, a exposição das lojas e centros de distribuição ao risco de inundação costeira e inundação em regiões interiores.
Mantivemos o envolvimento com os diferentes departamentos das nossas Companhias, fornecedores e associações de produtores. Este contacto permitiu mapear medidas de mitigação e adaptação implementadas facilitando a avaliação da resiliência climática da nossa cadeia de abastecimento. Apesar de a maioria dos fornecedores contactados não ter ainda uma avaliação de risco climático para as suas atividades em linha com as diretrizes da TCFD, identificaram a existência de alterações na temperatura e disponibilidade de água que afetam os níveis de produção e a qualidade de alguns produtos. Esses mesmos fornecedores têm implementadas ou preveem implementar medidas de adaptação, como por exemplo o aumento da capacidade de armazenamento da produção e, em alguns casos, o investimento no desenvolvimento de produtos alternativos ou mais resilientes, de que são exemplo as variedades de fruta mais adaptadas às mudanças de temperatura. Em situações muito específicas, nomeadamente em algumas variedades de grão de café, identificámos que existe transferência da produção de regiões com problemas associados às alterações climáticas para outras regiões do globo que apresentam condições climáticas mais favoráveis à sua produção.
Entre 2021 e 2023 foram envolvidos 197 fornecedores estratégicos de Marca Própria e perecíveis da Biedronka, do Pingo Doce, do Recheio e da Ara, resultando na identificação de diferentes medidas de mitigação e adaptação aos riscos climáticos. Algumas das medidas identificadas em 2023 são apresentadas na tabela seguinte.
Riscos climáticos: Medidas de mitigação e adaptação identificadas e implementadas e em 2023
Ingrediente |
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Companhia |
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Fase da cadeia de valor |
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Risco climático |
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Exemplos de medidas de adaptação implementadas |
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Banana |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Biedronka |
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Logística |
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Tomate |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Maçã |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Pera |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Café |
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Biedronka |
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Produção |
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Processamento |
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Batata |
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Biedronka |
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Produção |
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Açúcar |
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Ara |
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Produção |
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Porco |
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Biedronka |
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Produção |
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Bovino |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Ração animal |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Processamento |
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No caso dos nossos estabelecimentos5, continuámos a dar resposta aos riscos identificados como eventos climáticos extremos, gases de refrigeração utilizados para cumprimento de legislação ambiental, e a potenciar as oportunidades relacionadas com a transição energética. No que diz respeito a esta última, temos investido na aquisição de certificados de energia renovável em Portugal, na realização de contratos de aquisição de energia renovável a longo prazo na Polónia, no aumento do número de lojas e centros de distribuição com sistemas de produção de energia fotovoltaica em todos os países onde operamos, na implementação de sistemas de recuperação de energia nas unidades industriais e na remodelação do parque de lojas com o objetivo de reduzir os seus consumos energéticos. A utilização de gases refrigerantes naturais ou com baixo potencial de aquecimento global é uma das principais medidas consideradas na abertura de novas lojas e na remodelação das lojas existentes, com o objetivo de reduzir as emissões associadas às fugas de gases refrigerantes dos equipamentos de frio e refrigeração. A modernização destes equipamentos tem também contribuído para a redução do consumo de energia e para o aumento da resiliência da operação em dias de temperaturas extremas. As principais medidas de mitigação adotadas nas nossas operações estão detalhadas nas subsecções “Gestão dos consumos de água e energia” a “Gestão de gases de refrigeração” deste capítulo do Relatório e Contas. Reportamos ainda, de forma detalhada, os riscos e oportunidades climáticos nas nossas respostas ao CDP – Disclosure Insight Action6.
Em 2023, melhorámos a avaliação de alguns riscos emergentes associados a fenómenos meteorológicos extremos, como é o caso de tempestades com aumento da agitação marítima e chuvas intensas que dão origem a inundações em meio urbano e/ou deslizamentos de terra. Nesse sentido, foram analisadas diferentes bases de dados e ferramentas de avaliação do risco de inundação costeira e em regiões urbanas, tendo sido avaliados mais de 5.700 estabelecimentos nos três países onde operamos. Esta análise permitiu identificar as ferramentas mais adequadas para suportar as tomadas de decisão através de mapas de risco que identificam zonas de elevado ou muito elevado risco de inundação. A análise do risco para o curto e médio prazos identificou que o risco associado à subida do nível das águas do mar ou de inundação em regiões interiores não tem materialidade para o negócio. Atendendo às projeções de longo prazo, que indicam uma subida do nível das águas do mar entre 0,5 e 1 metro até 2100, o impacte deste risco em zonas costeiras continuará a ser monitorizado periodicamente por forma a identificar zonas de risco elevado para os negócios das nossas Companhias.
Nos processos logísticos, alargámos o universo de estudo do risco da subida do nível das águas do mar a mais de 3.000 portos marítimos, garantindo assim informação sobre o nível de risco para todos os portos utilizados pelos transportadores das mercadorias que adquirimos. Continuamos também a monitorizar o estado de implementação dos planos nacionais de ação e adaptação climática, com especial atenção para o progresso destas iniciativas na Colômbia, que apresenta infraestruturas em regiões de risco mais elevado.
A nossa estratégia climática atual é orientada pela análise de cenários climáticos com ações de mitigação e adaptação para ingredientes com riscos climáticos e sustentada por um plano de transição climática que engloba ações direcionadas à nossa cadeia de valor: operações próprias (centros de distribuição, lojas e unidades industriais e agroalimentares); logística; sourcing (especialmente de produtos alimentares); e clientes (estamos atentos às tendências da procura de produtos com baixas emissões de carbono). Na nossa cadeia de abastecimento, destacamos os compromissos públicos relacionados com a eliminação da desflorestação para as principais matérias-primas, o apoio aos nossos fornecedores de frutas e legumes para a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, o uso sustentável de energia, a redução do desperdício alimentar, o ecodesign de embalagens e a luta contra a poluição por plásticos. Para o sucesso dos nossos compromissos tem contribuído a relação de partilha de conhecimento e de cooperação com os nossos fornecedores de Marca Própria e de perecíveis como parte integrante do nosso processo de avaliação de resiliência da cadeia de abastecimento e identificação de novas oportunidades de negócio.
Relativamente às oportunidades de negócio, em 2023 continuámos a verificar a tendência dos últimos anos, com os nossos fornecedores a investirem na produção local de energia renovável para autoconsumo e para o processamento de matérias-primas (ex., a torra do grão de café ou a refinação de açúcar), e na produção de matérias-primas, área na qual destacamos a crescente utilização de combustíveis de baixo carbono em máquinas agrícolas e a valorização de resíduos para a produção desses mesmos combustíveis. O investimento dos nossos fornecedores em tecnologias de baixo carbono é fundamental para a redução das emissões indiretas associadas às nossas compras de bens e serviços. Na produção, a diversificação de variedades e o investimento em colheitas mais resilientes às alterações climáticas, bem como a diversificação dos países de origem, surgem como oportunidades identificadas pelos produtores. A tabela seguinte identifica as principais oportunidades de negócio identificadas em 2023.
Oportunidades de negócio identificadas em 2023
Ingrediente |
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País |
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Atividade |
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Oportunidade de negócio |
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Vários (fruta, açúcar, carne e ração) |
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Portugal |
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Produção |
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Produção de variedades mais resilientes às alterações climáticas, com aposta em técnicas naturais de seleção. |
Porco |
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Colômbia |
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Produção |
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Produção de biogás para geração de eletricidade in situ. Adesão aos mercados voluntários de carbono com projetos ligados à valorização de resíduos e efluentes. |
Café |
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Polónia |
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Produção |
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Diversificação das origens, incluindo regiões com produtividade mais elevada, devido ao impacte das alterações climáticas nessas regiões, com a garantia da manutenção do sabor e aroma do produto final. |
Vários (carne, fruta e legumes) |
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Portugal |
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Produção |
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Produção em estufas ou recintos cobertos, com a garantia de produção de colheitas durante períodos em que as condições climáticas são menos favoráveis. |
Ração animal |
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Portugal |
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Produção |
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Incorporação de fontes alternativas de proteína, como algas e insetos, para melhoria da formulação de produtos, com uma redução nas emissões de GEE associadas ao uso e alteração do solo no cultivo de commodities agrícolas. |
Gestão de riscos e oportunidades7
A probabilidade de ocorrência dos riscos e oportunidades acimas mencionados e o seu nível de impacto, incluindo financeiro, bem como a respetiva identificação, avaliação e gestão, integram o processo multidisciplinar de gestão de riscos de curto, médio e longo prazo ao nível do Grupo e são classificados como riscos ambientais na nossa taxonomia de riscos, que foi alinhada com a taxonomia TCFD.
Apesar do elevado grau de incerteza associado à avaliação do impacte dos riscos climáticos, o processo de identificação e gestão dos riscos de alterações climáticas para a nossa atividade é idêntico ao implementado na gestão de outros riscos e utiliza o quadro de gestão de riscos que estabelecemos. Este processo engloba riscos e oportunidades que ocorrem em todas as fases da nossa cadeia de valor: a montante (ex., o impacto da alteração dos padrões de precipitação nas cadeias globais de abastecimento alimentar); operações diretas (ex., o impacto no Capex da substituição antecipada de sistemas de refrigeração); e a jusante (ex., a oportunidade de aumentar a confiança dos investidores associada à aplicação das recomendações da TCFD).
Os riscos e oportunidades climáticas são identificados, avaliados e geridos ao nível corporativo quando podem afetar o Grupo acima do limiar de significância definido. Quando se situam abaixo do limiar de materialidade, são identificados e avaliados ao nível corporativo e geridos a nível das unidades de negócio/operacionais. A identificação inclui o acompanhamento da regulamentação específica de cada país (ex., impostos sobre o carbono em Portugal, na Polónia e na Colômbia) e uma avaliação pormenorizada da vulnerabilidade das instalações a fenómenos meteorológicos extremos (ex., mapeamento do risco de inundação das lojas e dos centros de distribuição em Portugal, na Polónia e na Colômbia).
As interações com a nossa rede de fornecedores permitiram identificar não só uma elevada adaptação aos riscos climáticos, mas também uma capacidade de armazenamento para longos períodos temporais, o que garante o abastecimento das nossas operações mesmo em períodos de menor produção em resultado de fenómenos climáticos. Enquanto retalhistas alimentares com um portfolio muito variado de produtos e uma rede logística madura e eficiente, conseguimos garantir a oferta nas nossas lojas de produtos similares ou alternativos em casos de disrupção pontual de abastecimento. Continua a verificar-se o aumento de produção de bens alimentares, em particular na Polónia, onde se têm registado invernos menos rigorosos, e a diversificação das regiões de produção de determinados alimentos, aumentando desta forma a disponibilidade de origens alternativas para os mesmos produtos.
A curto, médio e longo prazos, a disponibilidade de recursos hídricos e a variabilidade da precipitação apresentam um risco elevado para a produção agrícola e agropecuária no sul da Europa, em particular na Península Ibérica. Desta forma, com vista a classificar o risco hídrico associado aos principais ingredientes presentes nos nossos produtos, identificámos a pegada hídrica associada à sua produção, bem como os níveis de escassez de água nos países de origem. Adicionalmente, e como parte do nosso plano de gestão de risco, temos identificado boas práticas na utilização dos recursos hídricos implementadas pelos nossos fornecedores, incluindo a recolha de água das chuvas, o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de água e a utilização de sistemas de rega eficientes. Nesta matéria, as atividades agrícolas e industriais da JMA, que apresentam consumos de água significativos quando comparados com as nossas atividades de Distribuição, estão a implementar um plano de gestão eficiente da água para garantir a atividade durante períodos de seca severa.
A gestão do risco reputacional, diretamente ligada às expectativas dos stakeholders sobre o compromisso que assumimos de reduzir a nossa pegada de carbono, combater a desflorestação e apoiar projetos de preservação e conservação da biodiversidade, é uma preocupação transversal no âmbito da nossa Estratégia de Responsabilidade Corporativa e está refletida no nosso Plano de Transição Climática8. Este plano estabelece metas de redução de GEE alinhadas com uma trajetória de 1,5°C, das quais destacamos a nossa ambição de neutralidade carbónica até 2050 nas operações próprias e na cadeia de valor bem como o aumento do investimento no consumo de energia renovável. Destacamos também a nossa participação em coligações de âmbito nacional e internacional, de que são exemplo a adesão à Science Based Targets initiative (SBTi) e a Forest Positive Coalition of Action do The Consumer Goods Forum. Merecem igualmente nota as classificações que o CDP – Disclosure Insight Action nos atribuiu em 2023 (ver caixa de destaque).
Somos, pelo quarto ano consecutivo, o retalhista alimentar com melhor classificação pelo CDP a nível mundial
Fomos novamente distinguidos pelo CDP com a pontuação máxima possível (A) no programa “Combate às alterações climáticas” e avaliados com o nível de liderança (A-) nos programas “Gestão da água enquanto recurso crítico” e “Combate à desflorestação”. No que diz respeito ao programa “Combate à desflorestação”, somos o único retalhista alimentar no mundo com um nível de liderança (A-) na gestão das commodities mais associadas ao risco de desflorestação: óleo de palma, carne bovina, soja e madeira/papel.
Os resultados refletem a estratégia e o desempenho do Grupo e das suas Companhias, tendo a avaliação e gestão dos riscos climáticos de acordo com as recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) e a publicação do Plano de Transição Climática, sido determinantes para o que alcançámos.
As avaliações do CDP – Disclosure Insight Action (anteriormente designado por Carbon Disclosure Project) colocam-nos como o retalhista alimentar com a melhor classificação a nível mundial.
Métricas e metas
Com operações na Polónia, Portugal e Colômbia, com a abertura das primeiras lojas da Biedronka na Eslováquia previstas para o final de 2024, com a expansão da Hebe para a Chéquia e para a Eslováquia, e com a JMA a desenvolver uma operação em Marrocos, é importante encontrarmos soluções que contrariem a tendência inerente de aumento dos consumos de água e energia, o que passa pela conjugação de técnicas de construção, de tecnologia e pela adoção de comportamentos alinhados com boas práticas ambientais.
Para suportar o nosso percurso de neutralidade carbónica, desenvolvemos o Plano de Transição Climática, o qual define um conjunto de medidas e ações ao nível do Grupo para atingirmos os nossos objetivos de redução das emissões de GEE. Este plano integra as medidas de redução de emissões de GEE implementadas pelas Companhias, bem como as iniciativas de redução adicionais e os investimentos necessários para garantir a plena conformidade com uma trajetória de 1,5ºC.
Aderimos à Science Based Targets initiative (SBTi) em 2021 e, em 2023, submetemos as metas de redução de emissões com base científica para validação deste organismo. Seguindo a metodologia e os critérios da SBTi, 2021 foi selecionado como ano base por ser o mais recente com dados robustos e completos relativos às emissões de âmbito 1, 2 e 3. As metas de curto e de longo prazos que definimos para a neutralidade carbónica são as seguintes:
Metas de curto prazo
- Reduzir as emissões de GEE de âmbitos 1 e 2 em 55% até 2033, face a 2021.
- Garantir que, até 2030, 60% da eletricidade consumida é de origem renovável.
- Reduzir as emissões de âmbito 3 de energia e indústria em 33% até 2033, face a 2021.
- Reduzir as emissões de Floresta, Solos e Agricultura (FLAG) em 39,4% até 2033, face a 2021.
- Eliminar o risco de desflorestação na cadeia dos principais ingredientes dos nossos produtos até 2025.
Metas de longo prazo
- Reduzir as emissões de GEE de âmbitos 1 e 2 de energia e indústria em 90% e neutralizar as emissões residuais até 2045, face a 2021.
- Reduzir as emissões de âmbito 3 de energia e indústria em 90% e neutralizar as emissões residuais até 2050, face a 2021.
- Reduzir as emissões FLAG em 72% até 2050, face a 2021.
Estima-se que as metas apresentadas sejam validadas pela SBTi no primeiro semestre de 2024.
Assumimos também outros compromissos enquadrados na estratégia de combate às alterações climáticas, em particular na redução das emissões de âmbito 3, como o combate à desflorestação e à conversão de ecossistemas com alto valor de conservação, a redução do desperdício alimentar, a promoção de práticas de agricultura sustentável, a melhoria da eficiência das operações logísticas, o ecodesign de embalagens e a ação contra a poluição por plástico.
Evolução
Em 2024, temos como objetivo continuar a trabalhar na avaliação dos riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas para:
- aumentar o conhecimento de alguns riscos climáticos emergentes, como por exemplo o impacte de eventos climáticos extremos;
- considerar um maior número de ingredientes de forma a abranger mais produtos de Marca Própria e perecíveis das nossas Companhias, nos diferentes países onde temos operações;
- integrar na quantificação do risco financeiro as medidas de mitigação e adaptação identificadas na nossa cadeia de abastecimento;
- reforçar a colaboração com a nossa cadeia de abastecimento de forma a continuar a avaliar a sua resiliência climática;
- melhorar a quantificação das oportunidades de negócio, como o aumento de produção de algumas culturas, e a identificação de novas origens para alguns ingredientes sujeitos a risco climático.
Como parte do processo de melhoria contínua do cálculo das emissões de âmbito 3, iremos incorporar mais dados primários sobre os produtos dos nossos fornecedores e reforçar a cooperação com a nossa cadeia de abastecimento para reduzir as emissões associadas à aquisição de produtos e serviços.
A ambição reforçada nas metas de base científica atualmente em aprovação pela SBTi, o resultado da auscultação dos nossos stakeholders e a respetiva análise de dupla materialidade permitiram definir compromissos intermédios propostos para o triénio 2024-2026 e que estão refletidos na versão atualizada do nosso Plano de Transição Climática.
1 O TCFD é uma iniciativa promovida pelo sector financeiro que permite às empresas quantificar e divulgar os riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas, bem como os seus planos de ação.
2 Mais informação em www.jeronimomartins.com/cr-documentos-2023.
3 Mais informação em www.jeronimomartins.com/pt/investidor/governo-sociedade/comissoes-especializadas/.
4 Mais informação pode ser consultada em Questionário CDP Climate 2023 Questão C1.3 disponível em www.jeronimomartins.com/cr-documentos-2023
5 São considerados estabelecimentos as lojas, centros de distribuição, edifícios-sedes e unidades industriais (cozinhas centrais, fábrica de sopas e fábrica de massas frescas).
6 Mais informação em www.jeronimomartins.com/cr-documentos-2023,
7 Para saber mais, consulte o capítulo “Subsecção III – Controlo Interno e Gestão de Riscos”.
8 Mais informação em www.jeronimomartins.com/cr-documentos-2023.