Relatório e Contas 2023

29. Riscos financeiros

O Grupo encontra-se exposto a diversos riscos financeiros, nomeadamente: i. risco de preço, que inclui risco de taxa de juro, cambial e preço da energia elétrica; ii. risco transacional, que inclui risco de crédito e de liquidez; e iii. risco decorrente do portefólio de investimentos do Grupo, que abrange diversos riscos económico-financeiros, como os de taxa de juro, crédito, cambial ou inflação, assim como políticos e fiscais.

A gestão desta categoria de riscos concentra-se na imprevisibilidade dos mercados financeiros e procura minimizar os efeitos adversos dessa imprevisibilidade no desempenho financeiro do Grupo.

A este nível, certas exposições são geridas com recurso a instrumentos financeiros derivados.

A atividade desta área é conduzida pela Direção de Operações Financeiras, sendo responsável, com a cooperação das áreas financeiras das Companhias do Grupo, pela identificação e avaliação dos riscos e pela execução da cobertura de riscos financeiros, seguindo para o efeito as linhas de orientação que constam da Política de Gestão de Riscos Financeiros.

Trimestralmente, são apresentados à Comissão de Auditoria relatórios de compliance com a Política de Gestão de Riscos Financeiros.

29.1. Risco de preço

29.1.1. Risco cambial

A principal fonte de exposição a risco cambial advém das operações que o Grupo desenvolve na Polónia e na Colômbia.

Além dessas exposições, o Grupo adquire, no âmbito das atividades comerciais das suas subsidiárias, mercadorias designadas em moeda estrangeira, primordialmente euros e dólares americanos, no caso das operações Polacas e Colombianas, e em dólares americanos no caso das operações Portuguesas. Regra geral, são transações com exposição temporal muito curta. Os riscos cambiais associados às importações são cobertos por compras a prazo da moeda de pagamento.

A gestão de risco cambial das Companhias operacionais está centralizada na Direção de Operações Financeiras do Grupo. Sempre que possível, as exposições são geridas através de operações de cobertura natural, nomeadamente através da contratação de dívida financeira em moeda local. Quando tal não se revela possível, são contratadas operações, mais ou menos estruturadas tais como: swaps, forwards ou opções.

A exposição do Grupo ao risco de taxa de câmbio em instrumentos financeiros reconhecidos em 31 de dezembro de 2023, era a seguinte:

Em 31 de dezembro de 2023

 

Euro

 

Zloty

 

Peso colombiano

 

Dólar EU

 

Total

Ativos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caixa e equivalentes de caixa

 

517

 

1.316

 

106

 

 

 

1.938

Outros investimentos financeiros

 

2

 

 

 

 

 

2

Devedores, acréscimos e diferimentos

 

109

 

656

 

31

 

 

 

796

Instrumentos financeiros derivados

 

6

 

 

 

 

6

Total de ativos financeiros

 

634

 

1.972

 

136

 

 

2.742

Passivos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Empréstimos obtidos

 

0

 

137

 

628

 

 

765

Responsabilidades com locações

 

543

 

2.266

 

573

 

 

 

3.382

Instrumentos financeiros derivados

 

6

 

12

 

 

0

 

18

Credores, acréscimos e diferimentos

 

1.436

 

4.308

 

459

 

 

 

6.204

Total de passivos financeiros

 

1.985

 

6.724

 

1.660

 

0

 

10.370

Posição financeira líquida em balanço

 

(1.351)

 

(4.751)

 

(1.524)

 

0

 

(7.627)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 31 de dezembro de 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Total de ativos financeiros

 

723

 

1.562

 

81

 

0

 

2.367

Total de passivos financeiros

 

1.987

 

5.566

 

1.006

 

6

 

8.564

Posição financeira líquida em balanço

 

(1.264)

 

(4.003)

 

(924)

 

(6)

 

(6.197)

Considerando a posição dos ativos e passivos financeiros em balanço a 31 de dezembro de 2023, uma depreciação do zloty face ao euro na ordem dos 10% teria um impacto positivo em reservas cambiais nos capitais próprios de €457 milhões (em 31 de dezembro de 2022: um impacto positivo de €383 milhões). Em relação ao peso colombiano, uma depreciação face ao euro de 10% teria um impacto positivo em reservas cambiais nos capitais próprios de €139 milhões (em 31 de dezembro de 2022: um impacto positivo de €84 milhões).

Considerando os ativos financeiros líquidos relacionados com atividades operacionais que algumas subsidiárias do Grupo mantêm em moedas distintas da sua moeda funcional, uma depreciação de 10% da taxa de câmbio teria um impacto negativo em resultados de €44 milhões.

Atendendo ao conjunto dos ativos líquidos (financeiros e não financeiros) ao qual o Grupo se encontra exposto em zloty e em pesos colombianos, o efeito de uma depreciação de 10% dessas moedas, teria um impacto negativo de €164 milhões no total dos capitais próprios (em 31 de dezembro de 2022: um impacto negativo de €136 milhões).

29.1.2. Risco de taxa de juro (fluxos de caixa e justo valor)

Todos os passivos financeiros estão, de forma direta ou indireta, indexados a uma taxa de juro de referência, o que expõe o Grupo a risco de cash flow. Parte desses riscos são geridos com recurso à fixação de taxa de juro, o que expõe o Grupo a risco de justo valor.

A exposição a risco de taxa de juro é analisada de forma contínua. Para além da avaliação dos encargos futuros, com base nas taxas forward, realizam-se testes de sensibilidade a variações no nível de taxas de juro. O Grupo está exposto, fundamentalmente, à curva de taxa de juro do euro, do zloty e do peso colombiano.

A análise de sensibilidade é baseada nos seguintes pressupostos:

  • Alterações nas taxas de juro do mercado afetam proveitos ou custos de juros de instrumentos financeiros negociados a taxas de juro variáveis;
  • Alterações nas taxas de juro de mercado apenas afetam os proveitos ou custos de juros em relação a instrumentos financeiros com taxas de juro fixas se estes estiverem reconhecidos ao justo valor;
  • Alterações nas taxas de juro de mercado afetam o justo valor de instrumentos financeiros derivados e outros ativos e passivos financeiros;
  • Alterações no justo valor de instrumentos financeiros derivados e outros ativos e passivos financeiros são estimados descontando os fluxos de caixa futuros de valores atuais líquidos, utilizando taxas de mercado no momento da avaliação.

Para cada análise, qualquer que seja a moeda, são utilizadas as mesmas alterações às curvas de taxa de juro. As análises são efetuadas para a dívida líquida, ou seja, são deduzidos os depósitos e aplicações em instituições financeiras e instrumentos financeiros derivados. As simulações são efetuadas tendo por base os valores líquidos de dívida e o justo valor dos instrumentos financeiros derivados às datas de referência e a respetiva alteração nas curvas de taxa de juro.

Baseado nas simulações realizadas em 31 de dezembro de 2023, ignorando o efeito dos derivados de taxa de juro, uma subida de 50 p.b. nas taxas de juro teria um impacto positivo, mantendo tudo o resto constante, de €6 milhões (2022: positivo em €6 milhões). Estas simulações são realizadas uma vez por trimestre, mas são revistas sempre que ocorrem alterações relevantes, tais como: emissão, resgate ou reestruturação de dívida, variações significativas nas taxas diretoras e na inclinação das curvas de taxa de juro.

29.1.3. Risco de preço da energia elétrica

No âmbito da sua atividade, o Grupo está exposto à flutuação dos preços de energia, uma vez que os seus contratos de fornecimento de energia elétrica são indexados a preço de mercado de referência, expondo o Grupo ao risco de variabilidade dos fluxos de caixa. O Grupo analisa regularmente a evolução do preço de energia elétrica, em todas as geografias onde opera, e quando as condições de mercado o permitam, procura fixar, para períodos mais ou menos longos, o preço da energia elétrica com os seus fornecedores, como forma de mitigar o respetivo risco. É o caso das empresas em Portugal, para as quais foi possível fixar o preço por Mwh com o operador de eletricidade, até 2027.

Adicionalmente, tal como descrito na nota 13, foi celebrado um contrato de liquidação financeira, sobre o preço da eletricidade cobrindo uma parte das necessidades do Grupo. A 31 de dezembro de 2023, o justo valor deste instrumento financeiro derivado era de €5,8 milhões negativos (€5,4 milhões negativos a 31 de dezembro de 2022).

Baseado nas simulações realizadas em 31 de dezembro de 2023, um aumento/redução de 5% (deslocação paralela da curva de preços) no preço da energia elétrica teria um impacto positivo/negativo, mantendo tudo o resto constante, de cerca de €3,3 milhões.

29.2. Risco transacional

29.2.1. Risco de crédito

O Grupo gere de forma centralizada a sua exposição a riscos de crédito sobre os seus depósitos bancários, aplicações financeiras e derivados contratados junto de instituições financeiras, competindo às Direções Financeiras das unidades de negócio a gestão do risco de crédito sobre os seus clientes e outros devedores.

Relativamente às instituições financeiras, o Grupo seleciona as contrapartes com que faz negócio com base nas notações de ratings atribuídas por uma das entidades independentes de referência. Para além da existência de um nível mínimo de rating aceitável para as instituições com quem se relaciona, existe ainda uma percentagem máxima de exposição a cada uma destas entidades financeiras.

Permite-se que o banco onde cada Companhia deposita as suas receitas de lojas possa ter uma notação de rating inferior ao definido na política geral, na condição, porém, de o valor máximo de exposição não ultrapassar dois dias de vendas dessa empresa operacional.

A seguinte tabela apresenta um resumo, em 31 de dezembro de 2023 e 2022, da qualidade de crédito dos depósitos bancários, aplicações e instrumentos financeiros derivados de curto prazo com justo valor positivo:

 

 

 

 

Saldo

Instituições financeiras

 

Rating

 

2023

 

2022

Standard & Poor’s

 

[A+ : AA]

 

379

 

175

Standard & Poor’s

 

[BBB+ : A]

 

522

 

256

Standard & Poor’s

 

[BB+ : BBB]

 

326

 

346

Standard & Poor’s

 

[BB]

 

 

60

Moody’s

 

[A2 : A1]

 

203

 

277

Moody’s

 

[Caa1:Ba1]

 

1

 

1

Fitch

 

[A- : A+]

 

481

 

474

Fitch

 

[BBB- : BBB+]

 

3

 

154

Fitch

 

[B- : BB+]

 

89

 

21

 

 

Não disponível

 

73

 

37

Total

 

 

 

2.076

 

1.800

Os ratings apresentados correspondem às notações atribuídas pela Standard & Poor’s. Nos casos em que as mesmas não estão disponíveis recorre-se às notações da Moody’s e da Fitch.

Em relação aos créditos comerciais a receber (clientes), o risco está essencialmente circunscrito aos negócios de Cash & Carry, já que os demais negócios operam numa base de venda a dinheiro ou com recurso a meios de pagamento eletrónicos, principalmente cartões bancários (débito e crédito). Este risco é gerido com base na experiência e conhecimento individual do cliente e/ou imposição de limites de crédito, cuja monitorização é feita mensalmente e revista anualmente pela Auditoria Interna. Adicionalmente, a empresa recorre à cobertura de seguros de crédito como forma de mitigação do risco associado.

A seguinte tabela apresenta uma análise da qualidade de crédito dos saldos a receber de clientes e outros devedores sem incumprimento, nem imparidade:

 

 

2023

 

2022

Saldos de novos clientes (menos de seis meses)

 

1

 

2

Saldos de clientes sem histórico de incumprimento

 

59

 

57

Saldos de clientes com histórico de incumprimento

 

6

 

7

Saldos de outros devedores com garantias prestadas

 

22

 

20

Saldos de outros devedores sem garantias prestadas

 

178

 

142

Total

 

266

 

228

A seguinte tabela apresenta uma análise da concentração de risco de crédito de valores a receber de clientes e outros devedores, tendo em conta a sua exposição para com o Grupo:

 

 

2023

 

2022

 

 

N.º

 

Saldo

 

N.º

 

Saldo

Clientes com saldo superior a €1.000 milhares

 

3

 

6

 

4

 

12

Clientes com saldo entre €250 milhares e €1.000 milhares

 

34

 

13

 

30

 

11

Clientes com saldo inferior a €250 milhares

 

8.701

 

48

 

8.251

 

44

Outros devedores com saldo superior a €250 milhares

 

85

 

147

 

156

 

109

Outros devedores com saldo inferior a €250 milhares

 

2.691

 

51

 

3.103

 

52

 

 

11.514

 

266

 

11.544

 

228

A exposição máxima ao risco de crédito, às datas de 31 de dezembro de 2023 e 2022, é o respetivo valor de balanço dos ativos financeiros.

29.2.2. Risco de liquidez

A gestão do risco de liquidez passa pela manutenção de um adequado nível de disponibilidades, assim como pela negociação de limites de crédito que permitam, não apenas garantir o desenvolvimento normal das atividades do Grupo, mas também assegurar alguma flexibilidade para absorção de choques exógenos à atividade.

A gestão das necessidades de tesouraria é feita com base no planeamento de curto prazo (realizado diariamente), tendo subjacente os planos anuais, que são revistos de forma regular durante o ano.

Algumas subsidiárias do Grupo celebraram protocolos de confirming com instituições financeiras, de adesão voluntária por parte dos fornecedores, os quais lhes permitem antecipar o pagamento das suas faturas para cerca de 7 dias. De acordo com as características destes protocolos, os montantes mantêm-se classificados como dívidas a pagar a fornecedores, considerando que, em substância, se mantêm as características de dívida comercial. Os fornecedores que não aderem a estes protocolos são pagos normalmente de acordo com o prazo acordado contratualmente com cada fornecedor.

A tabela abaixo apresenta as responsabilidades do Grupo por intervalos de maturidade residual contratual. Os montantes apresentados na tabela são os fluxos de caixa contratuais não descontados. Adicionalmente, é de realçar que todos os instrumentos financeiros derivados que o Grupo contrata são liquidados pelo seu valor líquido.

2023

 

Menos de
1 ano

 

Entre
1 e 5 anos

 

Mais de
5 anos

Empréstimos obtidos

 

 

 

 

 

 

Outros empréstimos

 

538

 

294

 

23

Instrumentos financeiros derivados

 

(2)

 

(5)

 

19

Credores

 

5.745

 

 

Responsabilidades com locações

 

577

 

1.870

 

2.863

Total

 

6.857

 

2.158

 

2.905

2022

 

Menos de
1 ano

 

Entre
1 e 5 anos

 

Mais de
5 anos

Empréstimos obtidos

 

 

 

 

 

 

Outros empréstimos

 

258

 

217

 

43

Instrumentos financeiros derivados

 

(5)

 

(8)

 

27

Credores

 

4.998

 

 

Responsabilidades com locações

 

468

 

1.468

 

2.111

Total

 

5.719

 

1.677

 

2.181

O Grupo, no âmbito da emissão de dívida de médio e longo prazo, contratou alguns covenants usuais neste tipo de financiamentos.

Estes covenants incluem:

  • Limitações em alienação e penhor de ativos, acima de determinados limites;
  • Limitações nas fusões e/ou cisões quando as mesmas impliquem a saída de ativos do perímetro de consolidação;
  • Cláusula de manutenção do controlo da sociedade emitente pelo atual acionista maioritário;
  • Um limite nos rácios de Dívida Líquida/EBITDA, com os cálculos efetuados de acordo com o normativo contabilístico pré IFRS 16;
  • Cumprimento de standards sociais e ambientais.

Em alguns casos, o não cumprimento destes rácios pode implicar o vencimento antecipado da dívida associada. Em dezembro de 2023 o Grupo cumpria com todos os covenants assumidos na dívida que tinha emitida.

O Grupo mantém ao longo do ano reservas de liquidez sob a forma de linhas de crédito contratadas junto das instituições financeiras com que se relaciona, de forma a assegurar a capacidade de cumprir com os seus compromissos, sem ter de se financiar em condições desfavoráveis. Assim, em 31 de dezembro de 2023, o Grupo tinha contratadas linhas de crédito que não se encontravam a ser utilizadas no montante global de €965 milhões.

Adicionalmente, o Grupo possuía em 31 de dezembro de 2023 uma reserva de liquidez constituída por Caixa e equivalentes de caixa no montante de €1.938 milhões.

Desta forma, o Grupo espera satisfazer todas as suas necessidades de tesouraria com o recurso aos fluxos da atividade operacional e reservas de liquidez, e caso venha a ser eventualmente necessário, recorrendo às linhas de crédito disponíveis existentes.

29.2.3. Gestão de risco de capital

O Grupo procura manter um nível de capitais próprios adequado que lhe permita não só assegurar a continuidade e desenvolvimento da sua atividade, como também proporcionar uma adequada remuneração para os seus acionistas e a otimização do custo de capital.

O equilíbrio da estrutura de capital é monitorizado com base no rácio de alavancagem financeira (Gearing), calculado de acordo com a seguinte fórmula: Dívida líquida/Fundos de acionistas, e pelo rácio Dívida líquida/EBITDA. O Conselho de Administração estabeleceu como alvo um nível de Gearing inferior a 100%, consistente com uma notação de rating de investimento (investment grade) e um rácio Dívida líquida/EBITDA inferior a 3.

Os referidos rácios, a 31 de dezembro de 2023 e 2022, calculados sem o efeito da adoção da norma IFRS 16, conforme são analisados pela Administração do Grupo, eram os seguintes:

 

 

2023

 

2022

Capital investido

 

2.061

 

1.501

Dívida líquida

 

(1.184)

 

(1.236)

Fundos de acionistas

 

3.245

 

2.737

Gearing1

 

n.a.

 

n.a.

EBITDA

 

1.655

 

1.419

Dívida líquida/EBITDA

 

(0,7)

 

(0,9)

1

A 31 de dezembro de 2023 e 2022 a dívida líquida era positiva.

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