O ano de 2023 foi marcado por disrupções de diferentes naturezas incluindo, entre outras, a continuidade da invasão da Ucrânia pela Federação Russa, o início de um novo conflito armado no médio-oriente, a subida muito rápida da inflação e das taxas de juro para níveis sem precedentes desde 2008 e a desaceleração da generalidade das economias.
Todos estes fatores impactaram de forma significativa as condições em que as Companhias de Jerónimo Martins operaram ao longo do ano e refletiram-se nos diversos riscos a que o Grupo está exposto, nomeadamente em termos estratégicos e operacionais. Foram, por isso, implementadas diversas medidas de modo a antecipar e mitigar os impactos mais relevantes na execução dos objetivos estratégicos.
Riscos Estratégicos
A gestão de riscos estratégicos envolve a monitorização de fatores como as tendências sociais, políticas e macroeconómicas, nomeadamente, a evolução demográfica, as preferências dos consumidores, o ciclo de vida dos negócios, a dinâmica dos mercados (financeiros, de trabalho, de recursos naturais e energéticos), a situação geopolítica, a atividade da concorrência, a inovação tecnológica, as alterações ao nível legal e regulatório e o escrutínio social a que as atividades do Grupo se encontram expostas.
Esta informação é utilizada pela equipa de gestão para compreender as necessidades de mercado e, assim, identificar ameaças e oportunidades nas indústrias e sectores em que desenvolve atividade, nomeadamente em termos de potencial de crescimento e rentabilidade, mas também em termos de alinhamento estratégico do seu modelo de negócio com as condições de mercado atuais e futuras.
Riscos Operacionais
Resultam da condução das normais funções do negócio constantes da cadeia de valor do Grupo, focando-se nos riscos que resultam dos processos operacionais das suas unidades.
A classe de riscos operacionais considera os riscos relacionados com a gestão de categorias e sourcing, gestão de stocks, gestão de fundos, logística e supply chain e na eficiência e segurança na utilização de recursos e ativos.
Os riscos de fraude, branqueamento de capitais e corrupção são igualmente considerados na avaliação das atividades operacionais mais relevantes e a adequabilidade e alcance dos controlos e das medidas de mitigação são, também, revistas e reconsideradas sempre que necessário.
Riscos de Segurança Alimentar1
O Grupo procura disponibilizar produtos e soluções alimentares mais saudáveis, assegurando e impondo medidas de segurança alimentar em estrita observância com os mais elevados standards de segurança alimentar.
As Direções de Qualidade e Segurança Alimentar das diferentes Companhias do Grupo têm sob sua responsabilidade a:
- prevenção, através de auditorias de seleção, avaliação e acompanhamento de fornecedores;
- monitorização, através do acompanhamento do produto ao longo de todo o fluxo logístico para análise do cumprimento de requisitos de boas práticas e de certificação;
- monitorização, através da análise de produto na avaliação do cumprimento dos requisitos de qualidade e segurança alimentar; e
- formação, através da realização periódica de simulacros e ações de sensibilização.
As Companhias são continuamente monitorizadas por técnicos de controlo de qualidade, para assegurar a implementação de procedimentos e avaliar a eficiência dos processos de formação e a adequabilidade das instalações e equipamento.
Riscos Ambientais2
Jerónimo Martins implementou processos para compilar e avaliar dados relacionados com a sustentabilidade ambiental, assegurando que o órgão de administração conhece os riscos em que a Sociedade possa incorrer, podendo delinear e implementar planos de ação para a sua mitigação. São, assim, efetuadas avaliações regulares dos riscos e oportunidades ambientais que possam estar associados aos seus negócios, recorrendo a estudos e auditorias que permitem identificar os principais impactes das suas atividades nos ecossistemas e recursos que estes proporcionam, nos seguintes âmbitos:
- Práticas de gestão agrícola com foco no consumo de água e energia, na biodiversidade e gestão do solo, e na gestão económica dos fornecedores de perecíveis;
- Avaliação do estado de conservação sobre o pescado de Marca Própria e perecíveis comercializados;
- Análise de riscos e oportunidades associadas aos impactos decorrentes das alterações climáticas e da utilização da água, bem como quantificação e análise da materialidade das emissões de gases com efeito de estufa do Grupo (âmbitos 1, 2 e 3);
- Mapeamento das commodities de desflorestação, suas origens e métodos de produção nos produtos de Marcas Próprias e perecíveis;
- Realização de auditorias internas e externas em instalações próprias, a fornecedores de Marca Própria e perecíveis e a prestadores de serviços.
Assim, foram identificadas as seguintes tipologias de risco:
- De transição, podendo representar um aumento de custos resultantes do cumprimento de legislação ambiental e decorrentes da transição para uma economia de baixo carbono e de promoção da biodiversidade;
- Físico, podendo resultar na escassez de alguns recursos naturais, como produtos agrícolas, ou na disrupção pontual da cadeia de abastecimento associada a fenómenos climáticos extremos;
- Reputacional, associados às expectativas dos stakeholders quanto às medidas de mitigação de impactos adotados pelo Grupo.
A probabilidade de ocorrência destas situações e o seu nível de impacto, incluindo financeiro, bem como a gestão das mesmas, é analisada pelo Grupo como parte dos processos de avaliação de risco de curto, médio e longo prazo. Com base nestas avaliações, são definidas medidas de adaptação e mitigação para maximizar oportunidades de diferenciação e contribuir para aumentar a resiliência das suas Companhias e dos seus negócios. Estas ações promovem a gestão eficiente na utilização de recursos nas operações, produtos e serviços, mitigam a ocorrência de eventuais riscos naturais como eventos climáticos extremos e identificam oportunidades de criação de valor numa lógica de promoção da preservação e regeneração ambiental.
Riscos de Segurança Física e de Pessoas
A Direção de Segurança tem a responsabilidade de assegurar a existência de condições que garantam a integridade física das pessoas e das instalações.
A gestão do risco de segurança física e de pessoas envolve: i) a definição e divulgação de normas e instruções de trabalho, ii) a promoção de ações de sensibilização e formação de colaboradores, iii) a realização de auditorias às lojas, iv) a avaliação de riscos de todos os estabelecimentos e v) a execução de simulacros de emergência.
Riscos de Sistemas de Informação
Os riscos associados a Sistemas de Informação são analisados considerando as suas diferentes componentes: planeamento e organização, desenvolvimento, inovação, gestão de operações, segurança de informação e continuidade.
A componente de Segurança de Informação no Grupo está a cargo de uma Direção dedicada em exclusivo a essa matéria e consiste na implementação e manutenção de um Sistema de Gestão de Segurança da Informação que garanta a confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação crítica para o negócio, desenvolvendo atividades de monitorização e controlo no sentido de identificar e mitigar potenciais vulnerabilidades.
Riscos de Regulamentação
O cumprimento da legislação é assegurado pelos departamentos jurídicos das Companhias do Grupo.
Ao nível da Holding, a Direção de Assuntos Jurídicos garante, igualmente, a coordenação e a implementação de estratégias para a proteção dos interesses de Jerónimo Martins em caso de litígio, gerindo ainda o aconselhamento externo.
O cumprimento normativo em matéria de dados pessoais e de prevenção de corrupção está a cargo do Departamento de Compliance, em estreita articulação com a Direção de Assuntos Jurídicos da Holding, e em colaboração com os departamentos jurídicos das Companhias e com os departamentos de Segurança de Informação, de Auditoria Interna, de Recursos Humanos, entre outros.
A Sociedade, e as principais companhias do Grupo, em Portugal e na Polónia, dispõem ainda de um Encarregado de Proteção de Dados, o qual acompanha o compliance das mesmas em matéria de dados pessoais.
No sentido de assegurar o cumprimento das obrigações de natureza fiscal, a Direção de Fiscalidade da Holding presta assessoria às sociedades do Grupo, para além de supervisionar também o contencioso fiscal destas.
Riscos Financeiros
Jerónimo Martins encontra-se exposta a diversos riscos financeiros, nomeadamente: risco de preço, que inclui risco de taxa de juro e cambial; risco transacional, que inclui risco de crédito e de liquidez; e risco decorrente do portefólio de investimentos do Grupo, que abrange diversos riscos tais como, taxa de juro, crédito, cambial, inflação, político e fiscal.
A gestão desta categoria de riscos concentra-se na imprevisibilidade dos mercados financeiros e procura minimizar os seus efeitos adversos no desempenho financeiro da Sociedade.
A este nível, certas exposições são geridas com recurso a instrumentos financeiros derivados.
A atividade desta área é conduzida pela Direção de Operações Financeiras, sendo responsável, em articulação com áreas financeiras das Companhias do Grupo, pela identificação e avaliação dos riscos e pela execução da cobertura de riscos financeiros, seguindo para o efeito as linhas de orientação que constam da Política de Gestão de Riscos Financeiros.
Trimestralmente, são apresentados à Comissão de Auditoria relatórios de compliance com a Política de Gestão de Riscos Financeiros.
A informação sobre os riscos financeiros aos quais o Grupo se encontra exposto encontra-se detalhada na nota 29 – “Riscos financeiros”, nas Demonstrações Financeiras Consolidadas.
1 As ações desenvolvidas em 2023 pelo Grupo Jerónimo Martins em matéria de qualidade e segurança alimentar são detalhadas no “Promover a saúde pela alimentação”.
2 As ações desenvolvidas em 2023 pelo Grupo Jerónimo Martins em matéria de proteção do ambiente são detalhadas no “Respeitar o ambiente” e “Comprar com responsabilidade”.