O ano de 2023 ficou marcado por desafios decorrentes da inflação, que se manteve a níveis historicamente elevados em todo o mundo. Os principais bancos centrais a nível global continuaram a aumentar as taxas de juro de referência, tornando a política monetária mais restritiva.
O crescimento económico foi moderado em virtude da diminuição generalizada do consumo privado. As famílias e as empresas, confrontadas com a inflação e com os elevados juros do crédito bancário, viram o seu poder de compra e de investimento diminuir. No entanto, a generalidade dos agregados familiares beneficiou da resiliência do emprego a nível global.
Apesar de se ter cifrado em taxas elevadas, a inflação diminuiu ao longo do ano na maioria das economias, principalmente devido ao alto nível de preços verificado em 2022 e à redução dos preços da energia. A tendência dos juros de referência nas principais economias mundiais foi de subida, com um total de quatro aumentos por parte da Reserva Federal dos EUA, para o valor mais elevado desde 2001, e seis aumentos do Banco Central Europeu (BCE), para o valor mais elevado alguma vez registado na zona euro.
O ano de 2023 foi também marcado por tensões geopolíticas, com as guerras na Ucrânia e no Sudão a perdurar e a eclosão de um novo conflito no Médio Oriente.
Ainda que estas tensões se tenham refletido na maior volatilidade dos mercados perante a falta de confiança global e nos necessários ajustamentos macroeconómicos, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceu 3,1% em 2023, devendo manter-se estável em 2024, o que é revelador da resiliência das economias.
Na Polónia, o ano ficou marcado pelas eleições legislativas de outubro, que levaram a uma mudança de governo.
Em Portugal, o contexto político também registou alterações. A demissão do primeiro-ministro levou o Presidente da República a dissolver o parlamento e a marcar eleições legislativas antecipadas para março de 2024.
Na Colômbia, o Presidente enfrentou uma pesada derrota nas eleições regionais o que tem vindo a dificultar a implementação das políticas do governo, que dependem do apoio do congresso.
A Polónia registou um crescimento económico muito ténue em 2023, de 0,2%. O consumo privado estagnou devido à inflação e aos elevados custos financeiros. O investimento manteve-se robusto, apesar da diminuição registada no sector da construção.
A economia portuguesa também abrandou. O PIB cresceu 2,3% em 2023 em resultado das condições financeiras mais restritivas e do crescimento económico pouco significativo dos principais parceiros comerciais. A produção industrial abrandou e as exportações de bens desaceleraram significativamente. No sentido inverso, a forte recuperação do sector do turismo e o aumento da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) contribuíram para o crescimento económico do país.
Na Colômbia, o crescimento do PIB abrandou substancialmente desde finais de 2022, tendo crescido apenas 0,6% em 2023. O investimento caiu para cerca de 15% do PIB em 2023, em comparação com uma média de 23% no período 2014-2019. As taxas de juro elevadas e a incerteza política foram os principais fatores que contribuíram para essa queda. O consumo privado, que foi um dos principais motores da recuperação pós-pandemia, também desacelerou. A inflação de 2023 fixou-se nos 11,7% (10,2% em 2022), com a inflação subjacente, que exclui os produtos alimentares e energéticos, a fixar-se em 10,0% (6,5% em 2022).
A inflação em 2023 diminuiu na maioria das economias, mas permaneceu em níveis historicamente altos. A redução dos preços da energia foi o principal fator que contribuiu para essa diminuição. A inflação subjacente, que exclui os preços mais voláteis da energia e dos alimentos, manteve-se relativamente elevada.
A inflação na Polónia recuou ao longo de 2023, mas manteve-se em níveis médios elevados. A redução das perturbações nas cadeias de abastecimento foi o principal fator que contribuiu para o abrandamento das subidas de preços. A inflação subjacente reduziu de forma menos acentuada, devido à robustez do mercado de trabalho, que levou a aumentos salariais significativos e, consequentemente, suportando a procura. Para mitigar a elevada inflação, o governo polaco decidiu manter o corte no IVA dos produtos alimentares essenciais durante todo o ano de 2023, mantendo-o em vigor, pelo menos, até ao final do primeiro trimestre de 2024.
A inflação em Portugal foi de 4,3% em 2023. A descida da inflação foi mais rápida e mais ampla do que se previa no início do ano, devido a efeitos base e ao comportamento favorável nas componentes de energia. Em abril, o governo avançou com uma redução temporária do IVA de um cabaz de produtos essenciais, que se manteve em vigor até ao final do ano.
Apesar da redução da inflação alimentar, a inflação na Colômbia voltou a aumentar, em resultado do aumento de preço dos transportes e dos custos com habitação e energia.
Em 2023, os principais bancos centrais reforçaram o caráter restritivo da política monetária.
Na Colômbia, as taxas de juro aumentaram três vezes, atingindo 13,25%, o valor mais elevado dos últimos 25 anos. Já em dezembro, houve um corte de 0,25 p.p. para os 13,0%.
Na Polónia, as taxas mantiveram-se inalteradas em máximos de 20 anos até setembro, quando se verificou um corte de 0,75 p.p., que surpreendeu o mercado. Em outubro, foi implementado um corte adicional de 0,25 p.p., que colocou a taxa de referência nos 5,8% até ao final do ano.
Em Portugal, as taxas diretoras aumentaram seis vezes por via do BCE, o que equivale a um aumento total de 2,0 p.p., para um máximo histórico de 4,5%.
As vendas totais no sector do retalho a preços constantes registaram, em 2023, um desempenho pior do que em 2022, com taxas de crescimento real negativas na Polónia e na Colômbia. O mesmo aconteceu com as vendas de Retalho Alimentar. Esta evolução deve-se à diminuição do rendimento disponível das famílias, agravada pela elevada inflação alimentar, os custos de financiamento elevados e a baixa confiança. A manutenção dos níveis de emprego terá ajudado a conter esta pressão.
O Indicador de Confiança dos Consumidores melhorou na Polónia e em Portugal em 2023, apesar de permanecer em território claramente negativo. Na Polónia, o indicador foi melhorando de forma contínua ao longo do ano. Em Portugal, a confiança tornou-se menos negativa entre janeiro e julho, mas voltou a recuar nos meses seguintes. Ainda assim, a confiança esteve quase sempre em níveis menos negativos do que os registados em 2022. Na Colômbia, o índice de confiança médio anual de 2023 diminuiu face ao valor médio de 2022, ainda que o indicador tenha melhorado no segundo semestre, fechando o ano com valores próximos dos registados em 2022.
O mercado laboral global manteve-se bastante resiliente, com a taxa de desemprego na Polónia a baixar no primeiro semestre do ano e a estabilizar desde então. A forte pressão do mercado laboral voltou a ser um fator que contribuiu para um forte crescimento dos salários em 2023, ligeiramente atenuado pelos cidadãos ucranianos que integraram o mercado de trabalho polaco.
Na Colômbia, a taxa de desemprego também baixou de forma contínua ao longo do ano. Em Portugal, a taxa média de desemprego aumentou 0,4 p.p. face à verificada em 2022.
No que se refere às taxas cambiais, em 2023, o zloty registou uma taxa de conversão anual média1 de 4,5336 em relação ao euro, correspondente a uma apreciação de 3,4% face ao câmbio médio de 4,6883 registado em 2022.
O peso colombiano fechou o ano com uma forte valorização1 de 20,2% no mercado cambial (4.223 a 31 de dezembro de 2023 face a 5.075 a 31 de dezembro de 2022). Ainda assim, registou uma taxa de conversão anual média de 4.640 face ao euro que se traduz numa depreciação de 3,4% face aos 4.480 de 2022.
Para 2024, a expectativa geral é de que o crescimento económico na Polónia recupere, com o consumo privado a contribuir positivamente, acompanhado por uma robustez no investimento e apoiado pelos fundos do PRR da União Europeia. A política monetária deverá ser menos restritiva, podendo levar a uma redução moderada das taxas de juro, dado o risco de persistência da inflação e a incerteza das perspetivas económicas e políticas.
A economia portuguesa deverá crescer de forma muito ligeira em 2024, assente no consumo privado que poderá ser apoiado pela redução da inflação sobre o rendimento das famílias e pela dissipação de alguns efeitos da política monetária restritiva do BCE, se estes tiverem lugar na primeira metade do ano. O investimento privado também deverá crescer, suportado pelos fundos do PRR. O baixo contributo das exportações líquidas deverá ser desfavorável para o aumento do PIB em 2024.
Na Colômbia, a inflação, as taxas de juro elevadas e a incerteza política deverão pressionar a procura interna, levando a um crescimento muito moderado da economia em 2024. A inflação alimentar deverá sofrer novas pressões devido às condições climatéricas, mas a tendência de diminuição deve continuar. A gravidade dos fenómenos climatéricos poderá resultar em pressões sobre os preços dos alimentos e da eletricidade, devido à menor produção agrícola e de energia hidroelétrica. Se isso acontecer, o banco central poderá adiar o ciclo de corte de taxas de juros, restringindo ainda mais o crédito e levando a um maior abrandamento económico.
A nível mundial, a trajetória da inflação em 2024 é incerta. Por um lado, a subida dos salários reais deverá proporcionar às famílias um maior poder de compra, mas, por outro, persistem incertezas acerca da evolução dos preços da energia e dos impactos logísticos dos conflitos militares. A inflação deverá continuar a desacelerar, indo tendencialmente ao encontro das metas de inflação dos bancos centrais.
1 Taxa de conversão anual média determinada com ponderação dos volumes de negócios das Companhias do Grupo a operarem nessa moeda
Fontes Consultadas: Boletins Económicos do Banco de Portugal; Ministério das Finanças de Portugal; Instituto Nacional de Estatística (INE); Boletins Económicos do Banco Nacional da Polónia; Central Statistical Office (GUS); Banco de la República (Banco Central Colombiano); Departamento Administrativo Nacional de Estatística da Colômbia (DANE); Fedesarrollo; Nielsen; Future Minds, Fitch BMI, Mordor Intelligence, iAlimentar, America Retail, Valora Analitik.
Nota: Todos os dados macroeconómicos apresentados neste subcapítulo têm como base a última informação disponível à data do encerramento deste relatório.