A preservação dos ecossistemas marinhos é essencial para garantir a sustentabilidade da atividade pesqueira. Como tal, garantimos que as Marcas Próprias e os perecíveis de pescado que comercializamos não contribuem para a sobre-exploração, depleção ou extinção de espécies aquáticas.

Em 2024, identificámos mais de 200 espécies de pescado no nosso sortido, mantendo a aposta na diversificação da oferta como forma de reduzir a pressão sobre as espécies de pescado mais consumidas. A parcela do pescado de origem selvagem diminuiu face ao ano anterior (-7 p.p.), representando 61% do consumo total, enquanto o pescado com origem em produção de aquacultura correspondeu a 39% (+7 p.p. face a 2023). O aumento da parcela do pescado produzido em aquacultura resulta da consolidação dos investimentos que temos realizado neste sistema, que pode contribuir para reduzir a pressão sobre os stocks de pescado selvagem, particularmente em espécies muito apreciadas pelos consumidores, como o salmão, a dourada, o robalo, o camarão e a truta.
Origem dop Pescado de marcas próprias e perecíveis
em kg (2024)
Avaliação de impactos e ações de mitigação
Em 2024, e de acordo com o compromisso de monitorizar anualmente o estado de conservação das espécies de pescado selvagem comercializadas nas nossas lojas, voltámos a realizar essa avaliação recorrendo aos dados da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais1. A IUCN categoriza os diferentes níveis de ameaça da seguinte forma: Vulnerável (menor nível de risco), Em Perigo (risco intermédio) e Criticamente em Perigo (risco máximo)2. Os níveis de classificação Não-Avaliada, Dados Insuficientes, Menor Preocupação ou Quase Ameaçada não são, assim, relativos a categorias ameaçadas.
Como no ano anterior, cerca de 35% do pescado de origem selvagem nas nossas Marcas Próprias e perecíveis foi classificado dentro da categoria Vulnerável (que representa o menor nível de risco) e mais de metade (51%) das nossas compras de pescado selvagem não apresenta risco de conservação (categorias Quase Ameaçada e Menor Preocupação). Verificou-se ainda um aumento das compras de pescado classificado dentro da categoria Não-Avaliada pela IUCN (+6 p.p. face a 2023), devido à comercialização da espécie de pescada Merluccius hubbsi, para a qual não se verificaram compras em 2023. Não foram verificadas compras para as categorias de risco Criticamente em Perigo ou Em Perigo.
Nível do estado de conservação de espécies de pescado de origem selvagem
em kg (2023-2024)
Para cada um dos três níveis de risco de conservação (alto, médio e baixo), definimos ações concretas para mitigar os impactes negativos da nossa atividade sobre os ecossistemas marinhos:
- Proibimos a compra e venda das espécies classificadas com o nível de risco alto (Criticamente em Perigo) e para as quais não existam licenças extraordinárias que o permitam, ou para as quais não é assegurada aquacultura para todo o ciclo de vida.
- Para as espécies com o nível de risco médio (Em Perigo), proibimos a sua comercialização sempre que não sejam 100% provenientes de aquacultura e/ou de stocks geridos de forma sustentável e/ou que não apresentem certificado de sustentabilidade (ex.: MSC ou ASC).
- Quanto às espécies com o nível de risco baixo (Vulnerável), limitamos as ações promocionais sempre que não sejam provenientes de aquacultura e/ou de stocks geridos de forma sustentável e/ou que não apresentem certificado de sustentabilidade (ex.: MSC ou ASC).
A tabela seguinte mostra o grau de cumprimento dos compromissos em cada um dos três níveis de risco de conservação da escala3.
Classificação de risco IUCN |
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Compromisso |
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Cumprimento em 2024 |
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Criticamente em Perigo |
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Apenas a enguia-europeia (Anguilla anguilla)1 tinha este nível de risco. Não é comercializada nas nossas lojas desde 2016. Na revisão efetuada em 2022 foram identificadas duas outras espécies comerciais com este nível de risco: esturjão (Acipenser baerii) e perna de moça (Galeorhinus galeus). Em 2024, apenas a espécie Acipenser baerii foi comercializada, tendo sido garantida a origem de aquacultura para todo o ciclo de vida. |
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100% |
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Em Perigo |
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Identificámos sete espécies, às quais aplicamos a linha de ação definida: tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus); peixe-panga (Pangasianodon hypophthalmus)2; cação-liso (Mustelus mustelus); pescada-negra (Merluccius senegalensis); raia-curva (Raja undulata), raia-de-são-pedro (Raja circularis) e solha-americana (Hippoglossoides platessoides). |
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100% |
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Vulnerável |
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Identificámos 15 espécies às quais aplicámos esta linha de ação. |
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100% |
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Rastreabilidade e preservação da biodiversidade
O nosso compromisso com a preservação dos ecossistemas marinhos é evidente na diversidade de áreas FAO das quais obtemos mais de 80% do pescado selvagem que comercializamos. Em 2024, aproximadamente 60% do nosso sortido proveio da região FAO 27-Atlântico Nordeste4. Outras zonas de captura importantes incluem a FAO 34-Atlântico Centro-Oriental (7%), a FAO 87-Pacífico Sudeste (7%), a FAO 41-Atlântico Sudoeste (5%) e a FAO 61 – Pacífico Noroeste (4%). A análise de rastreabilidade até ao nível das zonas de captura permitiu confirmar que mais de metade do pescado selvagem vendido nas nossas lojas com origem nestas regiões não possui risco de conservação (50% classificado com o nível de Menor Preocupação e 1% como Quase Ameaçada) e 33% está classificado com o nível de risco de conservação mais baixo (Vulnerável). Cerca de 17% do pescado selvagem não se encontrava avaliado ou possuía dados insuficientes sobre o seu estado de conservação.

Em relação ao estado de sustentabilidade dos stocks, verificou-se que nas duas subáreas mais representativas [Mar da Noruega, Spitzbergen e ilha do Urso (FAO 27.2), e o mar de Barents (FAO 27.1)], o pescado selvagem com nível de risco Vulnerável representou 48% e 93%, respetivamente. Em ambas as regiões, esta avaliação reflete a preponderância do bacalhau-do-atlântico (Gadus morhua), classificado com o mesmo nível de risco de conservação no nosso sortido de pescado. Esta espécie tem sido objeto de monitorização e gestão rigorosas para assegurar a sustentabilidade da pesca. As populações de bacalhau nestas áreas têm apresentado variações significativas, com períodos de abundância seguidos de declínio dos níveis de biomassa5.
Origem do pescado selvagem por FAO (Top 80%)
em kg (2024)
Quanto à captura em águas portuguesas (FAO 27.9) e na restante zona do Atlântico Nordeste (FAO 27), os stocks de carapau (Trachurus trachurus) e do atum-patudo (Thunnus obesus) são os mais representativos entre as espécies classificadas com nível de risco Vulnerável (29% e 7%, respetivamente). Os níveis de biomassa de todas as unidades populacionais de carapau nestas regiões estão acima do ponto de referência limite, e possuem plena capacidade de reprodução6. Quanto ao atum-patudo do Atlântico, o stock está atualmente em sobre-exploração, mas não em sobrepesca7.
Relativamente às espécies que comercializamos com origem no Atlântico Centro-Oriental (FAO 34) e no Pacífico Sudeste (FAO 87), uma pequena porção (22% e 11%, respetivamente) apresentava o nível de risco Vulnerável. Em ambos os casos, o atum-patudo (Thunnus obesus) foi a espécie mais representativa. O stock desta espécie no Atlântico Centro-Oriental está atualmente em sobre-exploração, mas não em sobrepesca8, enquanto no stock do Pacífico Sudeste, os níveis de biomassa das unidades populacionais têm vindo a aumentar devido às medidas de conservação da espécie, pelo que não se encontra em sobre-exploração ou sobrepesca8.
Relativamente às áreas FAO 27.3 (Skagerrak, Kattegat, Sound, mar de Belt e mar Báltico) e FAO 27.4 (mar do Norte), quase toda a quantidade de pescado comercializado possui o nível de Menor Preocupação (100% e 98%, respetivamente). No caso das regiões do Atlântico Sudoeste (FAO 41), 17% das espécies possuem a categoria de Vulnerável, com destaque para o atum-patudo (Thunnus obesus), a espécie mais representada, cujo stock se encontra em sobre-exploração, mas não em sobrepesca8.
É de salientar ainda a área do Pacífico Noroeste (FAO 61), predominantemente composta por espécies não avaliadas (94%) pela IUCN, como a amêijoa-asiática (Meretrix lyrata).
O atum, em particular o atum-patudo do Atlântico, é uma das espécies mais relevantes em termos de risco de conservação, principalmente devido à sobrepesca e à pressão verificada sobre os stocks de onde realizamos o nosso sourcing. Em 2024, conseguimos rastrear 42% do nosso consumo de atum de Marca Própria e perecíveis até ao nível da embarcação (o nosso compromisso é garantir, até 2026, a rastreabilidade total). Este compromisso com a rastreabilidade é fundamental para a monitorização das práticas pesqueiras associadas a esta espécie, permitindo-nos, se necessário, definir critérios adicionais, de modo a contribuir para a redução da probabilidade de sobrepesca.
1 Para esta avaliação são utilizados os dados de 2024 da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN provenientes da Ferramenta Integrada de Avaliação da Biodiversidade (IBAT). Esta é fornecida pela BirdLife International, Conservation International, IUCN e UNEP-WCMC.
2 Para efeitos desta análise não é considerado o nível Extinto no Estado Selvagem, uma vez que o universo analisado é pescado no estado selvagem.
3 Mais informação em www.iucn.org.
4 Inclui o Mar de Barents (FAO 27.1), Mar da Noruega, Spitzbergen e Ilha do Urso (FAO 27.2), os mares interconectados de Skagerrak, Kattegat, Sound, Belt e Báltico (FAO 27.3), Mar do Norte (FAO 27.4), Águas Portuguesas (FAO 27.9) e outras subáreas.
5 ICES. 2024. Cod (Gadus morhua) in subareas 1 and 2 north of 67°N (Norwegian Sea and Barents Sea), northern Norwegian coastal cod. In Report of the ICES Advisory Committee, 2024. ICES Advice 2024, cod.27.1-2coastN.
6 ICES. 2024. Horse mackerel (Trachurus trachurus) in Division 9.a (Atlantic Iberian waters). In Report of the ICES Advisory Committee, 2024. ICES Advice 2024, hom.27.9a. Available at: ICES Report.
7 ICCAT. 2024. Executive Summary of the 2024 Bigeye Tuna Stock Assessment. International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas. Available at: ICCAT Report.
8 IATTC. 2024. Stock Assessment Report for Bigeye Tuna (Thunnus obesus) in the Eastern Pacific Ocean. Inter-American Tropical Tuna Commission. Available at: IATTC Report.