O ano de 2024 foi caracterizado por múltiplos acontecimentos com potencial disruptivo, incluindo a continuidade dos conflitos armados na Europa e no Médio-Oriente, o aumento da incerteza associado às eleições nos EUA e às alterações no equilíbrio de poderes na Comissão Europeia, a crescente complexidade e intensidade do fluxo de legislação e regulamentação europeias, a desaceleração na subida dos preços dos produtos alimentares e o impacto do aumento dos custos decorrente da inflação dos anos anteriores, nomeadamente dos salários mínimos e das rendas.
Estes fatores, que impactaram significativamente as condições em que as Companhias de Jerónimo Martins operaram ao longo do ano, refletiram-se nos diversos riscos a que o Grupo está exposto, nomeadamente em termos estratégicos e operacionais. Foram, por isso, implementadas diversas medidas de modo a antecipar e mitigar os impactos mais relevantes na execução dos objetivos estratégicos.
Riscos Estratégicos
A gestão de riscos estratégicos envolve a monitorização de fatores como as tendências sociais, políticas e macroeconómicas, nomeadamente, a evolução demográfica, as preferências dos consumidores, o ciclo de vida dos negócios, a dinâmica dos mercados (financeiros, de trabalho, de recursos naturais e energéticos), a situação geopolítica, a atividade da concorrência, a inovação tecnológica, as alterações ao nível legal e regulatório e o escrutínio social a que as atividades do Grupo se encontram expostas.
Esta informação é utilizada pela equipa de gestão para compreender as necessidades de mercado e, assim, identificar ameaças e oportunidades nas indústrias e sectores em que desenvolve atividade, nomeadamente em termos de potencial de crescimento e rentabilidade, mas também em termos de alinhamento estratégico do seu modelo de negócio com as condições de mercado atuais e futuras.
Riscos Operacionais
Resultam da condução das normais funções do negócio constantes da cadeia de valor do Grupo, focando-se nos riscos que resultam dos processos operacionais das suas unidades.
A classe de riscos operacionais considera os riscos relacionados com a gestão de categorias e sourcing, gestão de stocks, gestão de fundos, logística e supply chain e na eficiência e segurança na utilização de recursos e ativos.
Os riscos de fraude, branqueamento de capitais e corrupção são igualmente considerados na avaliação das atividades operacionais mais relevantes e a adequabilidade e alcance dos controlos e das medidas de mitigação são, também, revistas e reconsideradas sempre que necessário.
Riscos de Segurança Alimentar1
O Grupo procura disponibilizar, na sua Marca Própria e nos Produtos Frescos Perecíveis, produtos e soluções alimentares seguras e saudáveis, adotando elevados standards de qualidade e segurança alimentar.
As Direções de Qualidade das Companhias do Grupo asseguram estes elevados standards através:
- da realização de auditorias a fornecedores para garantir boas práticas de produção, em conformidade com a política de Qualidade e Segurança Alimentar da Jerónimo Martins;
- da monitorização dos produtos ao longo do fluxo logístico, avaliando o cumprimento dos requisitos definidos em Caderno de Encargos;
- de análises periódicas a produtos, com base no Plano Analítico anual, incluindo testes físico-químicos, microbiológicos e de ADN, para garantir conformidade e veracidade dos rótulos;
- da deteção de fraudes alimentares, através da identificação de espécies presentes nos produtos; e
- da formação contínua, com simulacros e ações de sensibilização.
As Companhias são monitorizadas por técnicos de controlo de qualidade, que avaliam a implementação de procedimentos, a eficiência da formação e a adequação das instalações e equipamento.
Riscos Ambientais2
Jerónimo Martins implementou processos para compilar e avaliar dados relacionados com a sustentabilidade ambiental, assegurando que o órgão de administração conhece os riscos em que a Sociedade possa incorrer, podendo delinear e implementar planos de ação para a sua mitigação. São, assim, efetuadas avaliações regulares dos riscos e oportunidades ambientais que possam estar associados aos seus negócios, recorrendo a estudos e auditorias que permitem identificar os principais impactes das suas atividades nos ecossistemas e recursos que estes proporcionam, nos seguintes âmbitos:
- Análise de riscos e oportunidades associadas aos impactes decorrentes das alterações climáticas e da utilização da água, bem como quantificação e análise da materialidade das emissões pelo Grupo de gases com efeito de estufa (âmbitos 1, 2 e 3);
- Análise de riscos e oportunidades associadas aos impactes decorrentes do uso de embalagens de produtos de Marca Própria e perecíveis, bem como quantificação e análise da materialidade das quantidades de materiais de embalagem e de alimentos desperdiçados;
- Mapeamento, no universo dos produtos de Marcas Próprias e perecíveis, das commodities relacionadas com os riscos de desflorestação, suas origens e métodos de produção;
- Avaliação do estado de conservação das espécies de pescado comercializadas sob Marca Própria e na categoria de perecíveis;
- Práticas de gestão agrícola com foco na redução do consumo de água e energia, na preservação da biodiversidade e correta gestão do solo, e na sustentabilidade económica dos fornecedores de perecíveis;
- Realização de auditorias internas e externas em instalações próprias, a fornecedores de Marca Própria e perecíveis e a prestadores de serviços.
Assim, foram identificadas as seguintes tipologias de risco:
- De transição, podendo representar um aumento de custos resultantes do cumprimento de legislação ambiental e decorrentes da transição para uma economia de baixo carbono e de promoção da biodiversidade;
- Físico, podendo resultar na escassez de alguns recursos naturais, como produtos agrícolas, ou na disrupção pontual da cadeia de abastecimento associada a fenómenos climáticos extremos;
- Reputacional, associados às expectativas dos stakeholders quanto às medidas de mitigação de impactes adotados pelo Grupo.
A probabilidade de ocorrência destas situações e o seu nível de impacto, incluindo financeiro, bem como a gestão das mesmas, é analisada pelo Grupo como parte dos processos de avaliação de risco de curto, médio e longo prazo. Com base nestas avaliações, são definidas medidas de adaptação e mitigação para maximizar oportunidades de diferenciação e contribuir para aumentar a resiliência das suas Companhias e dos seus negócios. Estas ações promovem a gestão eficiente na utilização de recursos nas operações, produtos e serviços, mitigam a ocorrência de eventuais riscos naturais como eventos climáticos extremos e identificam oportunidades de criação de valor numa lógica de promoção da preservação e regeneração ambiental.
Riscos de Segurança de Valores, Pessoas e Património
A Direção de Segurança tem a responsabilidade de assegurar a existência de condições que garantam a proteção das pessoas (colaboradores, clientes, fornecedores e acionistas), bem como do património físico e imaterial.
A gestão do risco de segurança de valores, pessoas e património envolve: i) a definição e divulgação de normas e instruções de trabalho, ii) a promoção de ações de sensibilização e formação de colaboradores, iii) a realização de auditorias às lojas, armazéns e outros espaços das diversas companhias, iv) a avaliação de riscos (ameaças e identificação de vulnerabilidades) e a proposta de medidas de mitigação e/ou eliminação, em todo o universo do Grupo, v) a colaboração na execução de simulacros de emergência e vi) o desenvolvimento de projetos e identificação de soluções tecnológicas inovadoras que dêem resposta adequada e proporcional aos riscos/ameaças com que o Grupo se confronta.
Riscos de Sistemas de Informação
Os riscos associados a Sistemas de Informação são analisados considerando as suas diferentes componentes: planeamento e organização, desenvolvimento, inovação, gestão de operações, segurança de informação e continuidade.
A componente de Segurança de Informação no Grupo está a cargo de uma Direção dedicada em exclusivo a essa matéria e consiste na implementação e manutenção de um Sistema de Gestão de Segurança da Informação que garanta a confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação crítica para o negócio, desenvolvendo atividades de monitorização e controlo no sentido de identificar e mitigar potenciais vulnerabilidades.
Riscos de Regulamentação
O cumprimento da legislação é assegurado pelos departamentos jurídicos das Companhias do Grupo.
Ao nível da Holding, a Direção de Assuntos Jurídicos garante, igualmente, a coordenação e a implementação de estratégias para a proteção dos interesses de Jerónimo Martins em caso de litígio, gerindo ainda o aconselhamento externo.
O cumprimento normativo em matéria de dados pessoais e de prevenção de corrupção está a cargo do Departamento de Compliance, em estreita articulação com a Direção de Assuntos Jurídicos da Holding, e em colaboração com os departamentos jurídicos das Companhias e com os departamentos de Segurança de Informação, de Auditoria Interna, de Recursos Humanos, entre outros.
A Sociedade, e as principais companhias do Grupo, em Portugal e na Polónia, dispõem ainda de um Encarregado de Proteção de Dados, o qual acompanha o compliance das mesmas em matéria de dados pessoais.
No sentido de assegurar o cumprimento das obrigações de natureza fiscal, a Direção de Fiscalidade da Holding presta assessoria às sociedades do Grupo, para além de supervisionar também o contencioso fiscal destas.
Riscos Financeiros
Jerónimo Martins encontra-se exposta a diversos riscos financeiros, nomeadamente: risco de preço, que inclui risco de taxa de juro e cambial; risco transacional, que inclui risco de crédito e de liquidez; e risco decorrente do portefólio de investimentos do Grupo, que abrange diversos riscos tais como, taxa de juro, crédito, cambial, inflação, político e fiscal.
A gestão desta categoria de riscos concentra-se na imprevisibilidade dos mercados financeiros e procura minimizar os seus efeitos adversos no desempenho financeiro da Sociedade.
A este nível, certas exposições são geridas com recurso a instrumentos financeiros derivados.
A atividade desta área é conduzida pela Direção de Operações Financeiras, sendo responsável, em articulação com áreas financeiras das Companhias do Grupo, pela identificação e avaliação dos riscos e pela execução da cobertura de riscos financeiros, seguindo para o efeito as linhas de orientação que constam da Política de Gestão de Riscos Financeiros.
Trimestralmente, é apresentado à Comissão de Auditoria o relatório de compliance com a Política de Gestão de Riscos Financeiros.
A informação sobre os riscos financeiros aos quais o Grupo se encontra exposto encontra-se detalhada na nota 28 – “Riscos Financeiros”.
1 As ações desenvolvidas em 2024 pelo Grupo Jerónimo Martins em matéria de qualidade e segurança alimentar são detalhadas em “Consumidores e utilizadores finais”.
2 As ações desenvolvidas em 2024 pelo Grupo Jerónimo Martins em matéria de proteção do ambiente são detalhadas em “Informação Ambiental”.