A avaliação e a gestão de riscos e oportunidades climáticas são peças centrais do nosso Plano de Transição Climática. O plano define as metas de redução de gases com efeito de estufa (GEE) e apresenta a estratégia de descarbonização suportada por um conjunto de iniciativas das nossas Companhias nas operações próprias e, através da colaboração próxima com fornecedores, também nas suas cadeias de abastecimento. Em maio de 2024, a Science Based Targets initiative (SBTi) validou as metas de redução de GEE que nos propusemos assumir, reforçando o nosso compromisso no combate às alterações climáticas.

O desafio crescente que as alterações climáticas colocam à sociedade e às empresas, e a complexidade da avaliação dos riscos e oportunidades financeiros associados, levou à adoção, em 2020, das recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), agora integradas nas normas do International Sustainability Standards Board (ISSB), gerido pela International Financial Reporting Standards (IFRS). Em 2024, a atualização da avaliação dos nossos riscos e oportunidades associados às alterações climáticas considerou os dados mais recentes divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, de acordo com os requisitos da Diretiva de Relato de Sustentabilidade das Empresas (CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive).
O processo de avaliação de riscos e oportunidades climáticos de curto, médio e longo prazo faz parte de um processo contínuo que abrange a cadeia de valor das Companhias do Grupo com faturação superior a 100 milhões de euros (representando 99,95% do volume de negócios total) e que envolve os fornecedores de Marca Própria e perecíveis. O objetivo é aumentar a resiliência climática da cadeia de abastecimento, reduzir as emissões de carbono e identificar potenciais oportunidades de negócio na produção primária e na utilização de tecnologias de baixo carbono.
Em 2024, a avaliação e gestão dos riscos e oportunidades teve como objetivos:
- atualizar a modelação de cenários de risco climático utilizados;
- aumentar o conhecimento sobre a pegada de carbono da cadeia de abastecimento através do envolvimento dos principais fornecedores das Companhias, possibilitando a partilha de informação e a identificação de oportunidades de redução das emissões de GEE;
- melhorar a avaliação de riscos específicos para alguns ingredientes, nomeadamente fruta e legumes, e da utilização do recurso água nas explorações agrícolas e agropecuárias da Jerónimo Martins Agro-Alimentar (JMA).
Governo
A estratégia de descarbonização e gestão dos riscos e oportunidades climáticos é acompanhada e apoiada pelo Conselho de Administração, garantindo que os temas relacionados com o clima são integrados na estratégia corporativa, nomeadamente na estratégia de sustentabilidade, tanto nas operações próprias como na cadeia de valor. A responsabilidade ao nível do Conselho de Administração recai sobre o Administrador-Delegado do Grupo, que é também presidente do Conselho de Administração e da Comissão de Governo da Sociedade e de Responsabilidade Corporativa (CGSRC). Mais informação sobre estes órgãos é detalhada nos pontos 21. e 29. do capítulo “Governo da Sociedade”.
Os temas relacionados com riscos e oportunidades climáticos são trabalhados nas reuniões regulares dos Comités de Sustentabilidade de cada uma das Companhias e na CGSRC, que suporta o Conselho de Administração avaliando e submetendo as propostas de orientação estratégica no domínio da responsabilidade corporativa. A mitigação e adaptação às alterações climáticas e as metas de redução das emissões GEE definidas no Plano de Transição Climática estão incluídas nessas propostas.
O Conselho de Administração também define a política e objetivos da Gestão de Risco do Grupo. Os riscos associados às alterações climáticas, incorporados nos riscos ambientais na nossa nomenclatura de gestão de risco, estão integrados no processo de gestão multidisciplinar do Grupo. Os nossos mecanismos de gestão de risco, incluindo os riscos ambientais, estão detalhados nos pontos 52., 53. e 54. do capítulo “Governo da Sociedade”.
A aprovação, em 2023, das metas de emissões líquidas zero e das metas de redução de curto e longo prazos, e a decisão de alocar à sua implementação uma média anual esperada de 10% do CapEx consolidado total, são apenas dois exemplos recentes de integração climática nos mecanismos de governação do Grupo.
As questões relacionadas com o clima são fundamentais para a nossa estratégia de responsabilidade corporativa, fazem parte integrante da estratégia de negócio. A implementação dos nossos compromissos climáticos é sustentada por investimentos contínuos, com ciclos de execução alinhados com o plano de negócios, designadamente:
- a instalação de sistemas fotovoltaicos para autoconsumo de eletricidade renovável na Polónia, em Portugal e na Colômbia;
- o uso de gases de refrigeração naturais nas instalações e equipamentos de refrigeração e congelação;
- a aquisição de eletricidade renovável certificada para alimentar as nossas operações em Portugal e na Polónia (OpEx).
O cumprimento de objetivos relacionados com o clima e outros objetivos de responsabilidade corporativa faz parte do esquema de incentivos aos colaboradores em funções que influenciam a definição e/ou implementação dos compromissos e metas climáticas assumidos pela empresa. As formas como integramos o desempenho relacionado com a sustentabilidade no esquema de incentivos a colaboradores estão detalhadas em “Governo e estratégia”.
A nossa estratégia
Como retalhista alimentar com atividades na área agroalimentar, dependemos de forma substancial de condições climáticas favoráveis em toda a nossa cadeia de valor, particularmente no que diz respeito aos ciclos naturais da produção primária, eles próprios fortemente dependentes dos serviços dos ecossistemas. As condições climáticas podem impactar a nossa cadeia de abastecimento alimentar e não-alimentar, por exemplo, ao nível da disponibilidade de água para a agricultura, dos processos logísticos, da eventual interrupção de vias de transporte devido ao deslizamento de terras, e também ao nível dos nossos estabelecimentos, pelo risco de inundação em lojas e centros de distribuição.

Reconhecemos o impacte das nossas atividades e das desenvolvidas nas nossas cadeias de abastecimento nas emissões GEE, que contribuem para as alterações climáticas. A nossa estratégia de mitigação e adaptação às alterações climáticas tem por objetivo reduzir os riscos físicos e de transição, através da diminuição sustentada de emissões de GEE nas operações próprias ena nossa cadeia de abastecimento, o que fazemos através do envolvimento de fornecedores no nosso roteiro de descarbonização. Esta colaboração próxima tem permitido integrar na nossa avaliação as ações de mitigação e adaptação já implementadas pelos nossos fornecedores para ingredientes com elevado risco climático.
Alinhado com uma trajetória de redução de GEE que limita o aumento da temperatura média a 1,5 ºC, o nosso plano apresenta medidas de intervenção nas operações próprias (centros de distribuição, lojas, unidades industriais e unidades agroalimentares), na logística, no sourcing com os nossos fornecedores (especialmente de produtos alimentares) e para os nossos consumidores. Também estamos atentos a eventuais disponibilidades de produtos alternativos com menores emissões de carbono associadas.
Iniciativa |
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Meta |
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Ações |
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Transição para gases refrigerantes naturais e com baixo Potencial de Aquecimento Global (PAG) |
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Utilizar unicamente gases refrigerantes naturais ou com baixo PAG em todos as lojas e centros de distribuição na Polónia e em Portugal até 2030 e na Colômbia até 2035. |
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Substituir ou reequipar os sistemas de refrigeração com gases refrigerantes naturais ou de baixo PAG (ex., R290 [propano], R717 [amoníaco] e R744 [dióxido de carbono]). |
Transição dos combustíveis fósseis. |
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Aumentar a eletrificação da frota de veículos ligeiros e a utilização de biocombustíveis. |
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Aumentar a percentagem de veículos elétricos e/ou plug-in na nossa frota de veículos ligeiros e aumentar a utilização de biocombustíveis e de hidrogénio. |
Transição para energias renováveis. |
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Até 2030, 60% da eletricidade consumida ser de fontes renováveis. |
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Aumentar o número de estabelecimentos com produção de energia renovável no local para autoconsumo. |
Aumento da eficiência energética dos nossos estabelecimentos. |
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Reduzir, até 2026, o consumo de energia em 10% face a 2021 (por 1.000€ de vendas). |
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Construção e remodelação de estabelecimentos com aumento de eficiência global, nomeadamente em sistemas e equipamentos de refrigeração, iluminação e AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado). |
O progresso destas ações, bem como dos restantes objetivos de redução de GEE, encontra-se em “Compromissos de sustentabilidade”.
A par do compromisso de reduzirmos as emissões de âmbito 1 (operações próprias) e de âmbito 2 (energia que compramos), temos também o compromisso de reduzir as emissões associadas às atividades a montante e a jusante (âmbito 3). Para muitas entidades, entre as quais nos incluímos, a maior fonte de emissões de GEE está associada à produção, à utilização e ao fim de vida dos produtos vendidos em loja. Para um retalhista alimentar, as emissões provenientes de bens adquiridos são influenciadas pelas práticas de produção industrial e pelas práticas agrícolas subjacentes aos alimentos vendidos como produtos finais (ex., hortícolas) ou incorporados como ingredientes nas suas Marcas Próprias (ex., soja em óleos vegetais). É por isso que desenvolvemos diversas iniciativas para reduzir as emissões associadas a estas práticas, nomeadamente as que estão associadas a mudanças no uso do solo, como é o caso da desflorestação relacionada com a conversão de áreas para produção agrícola. Na nossa cadeia de abastecimento destacamos:
- os compromissos públicos de não estarmos associados à desflorestação ou à conversão de ecossistemas de elevado valor de conservação para a produção das principais matérias-primas (óleo de palma, soja, papel/madeira e carne bovina);
- o apoio aos nossos fornecedores de fruta e legumes na adoção de práticas agrícolas sustentáveis;
- a promoção do uso sustentável de energia;
- a otimização das rotas de distribuição e o aumento do investimento em soluções de transporte mais eficientes;
- o combate e redução do desperdício alimentar;
- a promoção do ecodesign de embalagens;
- a luta contra a poluição por plásticos.
Atendendo à inevitabilidade de alguns efeitos das alterações climáticas, trabalhamos para aumentar a resiliência do negócio promovendo medidas de adaptação nas operações próprias e na cadeia de abastecimento. Fazemos isto através da partilha de boas práticas e da identificação de origens ou produtos alternativos.
A avaliação de risco também permite identificar, nas nossas operações, oportunidades para reduzir a pegada de carbono e aumentar a nossa capacidade de produção energética (como é o caso da geração de energia renovável para autoconsumo), ou o desenvolvimento de produtos inovadores de baixo carbono que respondam às expetativas e necessidades dos nossos consumidores.
Gestão de riscos e oportunidades climáticas
Apesar do elevado grau de incerteza associado à avaliação do impacte dos riscos climáticos, o processo é similar ao implementado na gestão de outros riscos, e assenta no nosso quadro geral de gestão de riscos, que engloba riscos e oportunidades em todas as fases da nossa cadeia de valor:
- a montante (ex., o impacte da alteração dos padrões de precipitação nas cadeias globais de abastecimento alimentar);
- nas operações próprias (ex., o impacte no CapEx da substituição de sistemas de refrigeração);
- a jusante (ex, a oportunidade de aumentar a confiança dos investidores através de uma gestão otimizada dos riscos e oportunidades financeiros relacionados com as alterações climáticas ou da redução das emissões de GEE na nossa cadeia de valor).
A identificação, avaliação e gestão de riscos e oportunidades climáticos faz parte de um processo integrado de gestão de riscos corporativos, alinhado com a ISO 31000, e inclui uma Matriz de Exposição ao Risco com quatro níveis calculados em função de duas dimensões: probabilidade e impacto, dimensão esta para a qual usamos quatro métricas (vendas, EBITDA, segurança e reputação) de acordo com o tipo de risco e oportunidade.
Os riscos e oportunidades são considerados significativos quando excedem uma variação potencial de 5% nas vendas (estabelecido como o limiar de materialidade) considerando o risco inerente1, sendo nesse caso identificados, avaliados e geridos ao nível corporativo. Quando se situam abaixo desse limiar de até 5% das vendas, são identificados e avaliados ao nível corporativo e geridos ao nível das Companhias.
A identificação inclui o acompanhamento da regulamentação específica de cada país (ex., impostos sobre o carbono em Portugal, na Polónia e na Colômbia), uma avaliação pormenorizada da vulnerabilidade das instalações a fenómenos meteorológicos extremos (ex., mapeamento do risco de inundação das lojas e dos centros de distribuição nos países onde temos operações) e uma análise das tendências de mercado, nomeadamente as preferências dos consumidores (ex., preferência por produtos locais, escolha de produtos de baixo carbono ou produtos alinhados com uma alimentação flexitariana).
Estes mecanismos estão detalhados nos pontos 52., 53., e 54. do capítulo “Governo da Sociedade”.
Os riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas foram avaliados em diferentes horizontes temporais – curto, médio e longo prazos – e selecionados de acordo com a relevância para as nossas atividades, e podem ser de dois tipos:
- físicos (agudos e crónicos);
- de transição (incluem riscos políticos e regulatórios, de mercado, tecnológicos e reputacionais).
Tipo de risco |
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Categoria de risco |
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Fase da cadeia de valor |
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Risco climático |
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Físicos |
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Agudo |
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Produção |
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Processamento |
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Logística |
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Estabelecimentos |
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Crónico |
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Produção |
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Logística |
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Estabelecimentos |
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Transição |
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Mercado |
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Processamento |
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Tecnológico |
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Estabelecimentos |
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Reputacional |
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Consumidor/Comunidade |
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O universo de riscos relacionados com as alterações climáticas, bem como a quantificação e divulgação dos riscos e oportunidades financeiros, encontram-se em atualização para integrar a mais recente informação dos modelos de projeção climática.
A identificação de riscos climáticos é baseada em cenários quantitativos usando projeções do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), da Agência Internacional da Energia e de outras bases de dados (ex., a FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Esta informação serve para avaliarmos a dependência das vendas das nossas Companhias em relação a produtos contendo ingredientes com maior vulnerabilidade aos efeitos das alterações climáticas.
Em 2020, foram consideradas as quatro fases principais da cadeia de valor (produção primária, processamento, logística e os nossos estabelecimentos), e selecionados os 30 grupos de produtos mais relevantes para as Companhias, e os seus principais ingredientes e respetivas origens, num total de 45 ingredientes e 24 origens. Esta seleção correspondeu à análise de mais de 40 artigos permitindo obter uma amostra representativa dos produtos comercializados, respetivos países de origem e localizações onde operamos. Para cada ingrediente e principais origens foram identificados e avaliados os riscos e oportunidades climáticos.
Em 2024, revisitámos os produtos selecionados e aumentámos para 50 o número de artigos sujeitos a avaliação de riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas.

A avaliação das diferentes categorias de riscos físicos e de transição foi atualizada para os horizontes temporais de curto prazo, 2030, médio prazo, 2040, e longo prazo, 2050, alinhados com o nosso plano de transição climática e de acordo com os mais recentes modelos do 6.º Relatório do IPCC que combinam os cenários climáticos (Representative Concentration Pathways)e socioeconómicos (Socio-economic Pathways):
- SSP1 – 1.9 (<1,5 ºC), “sustainable pathway”, considera um cenário de crescimento focado na sustentabilidade com reduções rápidas de emissões para limitar o aumento da temperatura média a 1,5 ºC, em linha com os objetivos do Acordo de Paris;
- SSP2 – 4.5 (2-3 ºC), “middle-of-the-road”, assume a manutenção de padrões socioeconómicos históricos e um aumento da temperatura média abaixo dos 2,0 ºC num cenário de mitigação intensivo;
- SSP5 – 8.5 (>4 ºC), “fossil fuel-rich development”, projeta um rápido e insustentável crescimento da economia e do uso de energia, e um aumento da temperatura média entre 4,0 ºC e 6,1 ºC, assumindo que os esforços para limitar o aumento da temperatura média falham.
Desde 2020 que todas as oportunidades e riscos físicos e de transição associados às alterações climáticas consideradas significativas têm sido avaliados anualmente.
Identificação de riscos e oportunidades
Em 2024, a avaliação de riscos e oportunidades nas nossas operações abrangeu mais de 6.000 estabelecimentos (lojas, centros de distribuição, edifícios-sedes, cozinhas centrais, e unidades industriais) nos seis países onde temos operações (Polónia, Portugal, Colômbia, Marrocos, Chéquia e Eslováquia) e focou-se nos riscos físicos mais frequentes nas nossas operações e em potenciar as oportunidades relacionadas com a transição energética e a utilização de gases refrigerantes naturais ou de baixo PAG.
Riscos e oportunidades |
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Horizonte temporal1 |
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Impacte |
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Fase da cadeia de valor |
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Descrição |
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Risco físico: |
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Curto e médio prazos |
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Redução de vendas e aumento de CapEx |
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Estabelecimentos |
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Para além de danos materiais nas infraestruturas e encerramento temporário de lojas, inundações costeiras e fluviais podem provocar perdas de inventário e custos associados à reparação de equipamentos nos nossos estabelecimentos. |
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Risco físico: |
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Longo prazo |
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Redução de vendas e aumento de custos logísticos |
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Logística |
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A perturbação da operação de portos marítimos devido à subida do nível das águas do mar pode resultar na disrupção temporária na entrega de determinados produtos nos nossos estabelecimentos. |
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Risco físico: |
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Curto e médio prazos |
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Redução de vendas e aumento de CapEx |
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Produção |
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A escassez de água pode levar à redução da produtividade agrícola e agropecuárias, tornando necessário investir no aumento da eficiência hídrica e na construção de sistemas de armazenamento de água. |
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Risco físico: |
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Curto prazo |
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Aumento de CapEX e OpEx |
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Estabelecimentos |
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Os períodos prolongados de temperaturas elevadas (ex., ondas de calor) podem pressionar os sistemas de refrigeração e ar condicionado, aumentando o risco de falhas críticas, elevando o consumo de energia e intensificando a necessidade de manutenção ou substituição dos equipamentos. |
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Risco físico e oportunidade de mercado: |
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Curto prazo |
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Redução de OpEx e de emissões de GEE e aumento de CapEx |
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Processamento |
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O investimento em sistemas de produção de energia renovável para autoconsumo (ex., painéis fotovoltaicos nas coberturas dos estabelecimentos) reduz a exposição à variação dos preços de energia e reduz as emissões de GEE. Por outro lado, tecnologias de baixo carbono requerem investimentos elevados. A transição energética terá particular impacte nos custos de investimento para cenários climáticos 1,5 ºC (SSP1 – 2.6). |
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Risco de transição: |
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Curto prazo |
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Aumento de CapEX |
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Estabelecimentos |
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A utilização de gases refrigerantes com elevado PAG é um exemplo associado aos riscos regulatórios. Uma vez que, em caso de fuga, podem causar impactos ambientais significativos, estes gases estão sujeitos a regulamentação para a sua eliminação progressiva em diversos países. Isto pode aumentar o investimento necessário para substituir ou modernizar equipamentos de refrigeração e ar condicionado que funcionem com gases refrigerantes naturais ou de baixo PAG. |
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Devido à crescente pressão sobre os recursos hídricos, reavaliámos o nível de stress hídrico associado à localização dos estabelecimentos das nossas Companhias, com especial foco nas explorações da JMA. A nossa área de produção agroalimentar tem uma elevada dependência de recursos hídricos, nomeadamente para abeberamento animal e para operações de rega. Utilizámos a versão mais recente (2023) da Aqueduct Water, uma ferramenta do World Resources Institute que integra informação sobre escassez de água atual e projetada para diferentes horizontes temporais, de acordo com cenários climáticos diversos. Foram considerados como relevantes os locais com risco classificado como “Elevado” e “Extremamente elevado”.
Como resultado desta reavaliação, a JMA elaborou um Plano de Gestão da Água. Este plano dá resposta ao compromisso de definir e implementar nas unidades da Companhia um plano de mitigação e adaptação para melhorar a eficiência na utilização da água e gerir a sua escassez durante períodos de baixa precipitação. O plano também define as principais ações de monitorização e de gestão da eficiência hídrica, bem como as metas de redução do consumo e de controlo da qualidade da água, num esforço de melhoria contínua que inclui a divulgação pública dos progressos obtidos.
Por forma a reduzir o impacte nos recursos hídricos sem colocar em causa a produção, a JMA tem implementadas diversas medidas de mitigação como:
- recolha de água da chuva para arrefecimento, lavagem e irrigação dos espaços exteriores;
- utilização de água das charcas para abeberamento animal;
- sistemas de rega gota a gota;
- rega noturna.
Informação sobre a exposição das nossas operações a estes riscos é detalhada neste subcapítulo, na “Consumo de água”.
A análise para os períodos 2030 e 2040 identificou que o risco associado à subida do nível das águas do mar ou de inundação em regiões interiores não tem impacto significativo para o negócio. Esta avaliação recorreu aos modelos climáticos do risco de inundação costeira e fluvial da ferramenta WWF Water Risk Filter.
Atendendo às projeções de longo prazo, que indicam uma subida do nível das águas do mar entre 0,5 metros e 1 metro até 2100, o impacte deste risco em zonas costeiras continuará a ser monitorizado periodicamente por forma a identificar zonas de risco elevado para os negócios das nossas Companhias. No que diz respeito ao risco de inundação devido a períodos de precipitação intensa, a sua quantificação é complexa devido à incerteza dos resultados obtidos pelos cenários climáticos. Apesar do aumento da frequência e intensidade dos fenómenos de cheias, o número de lojas afetadas nos últimos anos é muito reduzido. Os nossos estabelecimentos possuem sistemas de drenagem e níveis de adaptação à ocorrência de inundações, principalmente as que resultam de precipitação intensa. Um exemplo de uma medida de mitigação é a construção dos centros de distribuição na Colômbia acima da linha média de subida do nível do mar e com uma inclinação para que as águas das chuvas escorram para tanques. Desta forma, a água pode ser utilizada para atividades secundárias, como lavagem de pavimentos e rega de espaços verdes.
Acompanhamos o impacte da eventual subida do nível da água do mar nos nossos processos logísticos através do estudo do risco associado aos portos marítimos utilizados pelos transportadores de mercadorias a que recorremos nos diferentes países.
Também monitorizamos o estado de implementação dos planos nacionais de ação e adaptação climáticas, em especial na Colômbia, onde existem infraestruturas portuárias em regiões de risco mais elevado, bem como os planos de vários países para portos estratégicos em regiões onde identificámos novos produtos, ou produtos alternativos a outros que estão em risco nas suas regiões de produção.
Ainda que o risco identificado nas nossas infraestruturas não tenha um impacte significativo, acompanhamos de forma próxima a ocorrência e a magnitude de eventos extremos recentes, como as inundações de setembro de 2024 no sul da Polónia e os incêndios florestais de grande dimensão no centro e norte de Portugal, também em setembro de 2024.
No que respeita à transição energética nos países onde operamos, há riscos e oportunidades já identificados:
- Apesar do esforço nos últimos anos para o aumento da produção de eletricidade através de fontes renováveis, a Polónia continua a estar dependente de combustíveis fósseis, em particular do carvão, para a produção de eletricidade e calor.
- Em Portugal, a elevada penetração de energia renovável garante uma pegada de carbono reduzida na produção de eletricidade.
- A Colômbia tem emissões de GEE reduzidas devido ao grande peso da produção hidroelétrica.
O ano de 2024, contudo, foi marcado pelos efeitos do fenómeno climático El Niño, e houve períodos de escassez de água que afetaram os caudais dos rios e a disponibilidade para as populações. No caso da Colômbia, a menor produção hidroelétrica levou a um aumento da produção de eletricidade a partir de fontes não renováveis, sendo e o consequente incremento dos custos de energia, sendo por isso expectável um aumento do conteúdo de carbono na rede elétrica do país.
Na Colômbia, devido à falta de serviços de instalação e manutenção, é limitada a disponibilidade de sistemas de refrigeração centralizados com gases refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global, o que constitui um risco tecnológico.
A gestão do risco reputacional está diretamente ligada às expectativas dos stakeholders sobre o compromisso de reduzirmos a nossa pegada de carbono, combatermos a desflorestação e apoiarmos projetos de preservação e conservação da biodiversidade. As nossas ações nestes temas são detalhadas ao longo deste subcapítulo. Os progressos dos objetivos que definimos para estes tópicos estão detalhados neste capítulo, em “Compromissos de Sustentabilidade”.
Como reflexo da trajetória que temos vindo a seguir, em 2024 fomos novamente distinguidos pelo CDP com a pontuação máxima possível (A) no programa “Combate às alterações climáticas” e avaliados com o nível de liderança (A-) nos programas “Gestão da água enquanto recurso crítico” e “Combate à desflorestação” na gestão das commodities mais associadas ao risco de desflorestação: óleo de palma, carne bovina, soja e papel/madeira.
Colaboração com os fornecedores

Entre 2021 e 2024, foram envolvidos mais de 230 fornecedores de Marca Própria e perecíveis da Biedronka, do Pingo Doce, do Recheio e da Ara, resultando na identificação de diferentes medidas de adaptação aos impactes das alterações climáticas e de mitigação associados à redução das emissões de GEE. Através da avaliação da resiliência climática da nossa cadeia de abastecimento, identificámos uma preocupação crescente com riscos específicos como temperaturas extremas ou disponibilidade de água, os quais têm obrigado os fornecedores a adaptações na sua atividade de forma a garantirem a manutenção dos níveis produtivos e a qualidade dos produtos.
Ingrediente |
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Companhia |
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Fase da cadeia de valor |
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Risco climático |
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Exemplos de medidas implementadas |
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Fruta (vários) |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Bovino |
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Ara |
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Produção |
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Cereais |
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Ara |
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Produção |
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Processamento |
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Produção |
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Leite e laticínios |
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Ara |
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Produção |
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Processamento |
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Papel |
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Biedronka |
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Processamento |
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Azeite |
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Pingo Doce |
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Produção |
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Processamento |
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Cerveja |
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Pingo Doce |
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Processamento |
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Logística |
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No sentido de acautelar potenciais riscos climáticos, os nossos fornecedores estão a introduzir mudanças estratégicas como:
- diversificação das origens de alguns ingredientes (ex., banana, cacau e arroz), resultado da migração da produção para regiões com condições climáticas mais favoráveis;
- investimento em variedades das matérias-primas mais resistentes, mantendo a origem;
- desenvolvimento de produtos de valor acrescentado e de mais fácil conservação (ex., compotas ou produtos desidratados).
Para além disso, os impactes de fenómenos extremos, comos os ocorridos em Valência em outubro de 2024, são monitorizados pelos departamentos de qualidade e segurança alimentar, avaliando a existência de riscos indiretos como a ocorrência da proliferação de agentes patogénicos (ex., E-coli) em produtos alimentares.
A partilha de conhecimento e a cooperação com os nossos fornecedores de Marca Própria e perecíveis traduzem-se em cadeias de abastecimento mais resilientes e nas quais surgem novas oportunidades de negócio. Um dos exemplos desta colaboração é o nosso projeto de agricultura sustentável, através do qual trabalhamos de forma estreita com fornecedores e produtores, partilhando boas práticas e auxiliando na avaliação do nível de sustentabilidade das suas explorações nas vertentes ambiental, de técnicas agrícolas e económica.
O nosso Manual de Agricultura Sustentável tem permitido avaliar o grau de alinhamento das explorações agrícolas dos nossos fornecedores com os riscos climáticos, e a implementação de medidas de mitigação relacionadas com a escassez de água, o frio extremo e a transição energética. Para mais informações sobre esta iniciativa consulte “Sensibilização e formação de fornecedores”.
Temos verificado uma maior frequência de fenómenos climáticos e do seu impacte nas explorações dos nossos fornecedores, que têm investido em soluções contra os riscos físicos (ex., períodos de seca) e de transição (ex., investimento em energias renováveis) através de:
- instalação de circuitos fechados de água;
- utilização de fontes de água alternativas, recorrendo por exemplo ao armazenamento de águas pluviais;
- adaptação contra as variações de temperatura através do investimento em estufas ou protetores de plantações;
- investimento em painéis fotovoltaicos, combustíveis alternativos (ex., biodiesel), no aproveitamento de calor residual para as estufas e instalação de iluminação LED.
Na produção agrícola e agropecuária, temos acompanhado os desafios que os períodos de seca e a alteração do período das chuvas colocam à produção no sul da Europa, em particular na Península Ibérica. Apesar da maior frequência e duração destes fenómenos, temos identificado de forma generalizada uma adoção de medidas de gestão eficiente da água por parte dos nossos fornecedores, onde se destaca a produção de espécies mais resistentes a períodos de seca, a utilização de subprodutos alimentares na alimentação animal, e os investimentos em sistemas de armazenamento de água, em sistemas de monitorização e em sistemas de rega eficientes. Acreditamos que a nossa influência na adoção de boas práticas tem de ser refletida nas nossas atividades, e por isso, elaborámos um Plano de Gestão de Água para as atividades agrícolas e industriais da JMA, que, pela natureza das atividades desenvolvidas, apresentam consumos de água significativos quando comparados com as nossas atividades de Distribuição. O Plano de Gestão da Água da JMA define medidas de eficiência hídrica que aumentarão a resiliência das atividades durante períodos de seca severa.
No que diz respeito às oportunidades relacionadas com a transição energética, impulsionada também pela regulamentação ambiental cada vez mais exigente sobre a nossa atividade, temos investido continuamente ao longo da última década nas seguintes ações:
- aquisição de energia de fontes renováveis e certificados de energia renovável em Portugal e na Polónia;
- instalação de sistemas de produção de energia fotovoltaica em lojas e centros de distribuição em todos os países em que operamos;
- utilização de sistemas de recuperação de energia nas unidades industriais e nas lojas que são remodeladas para reduzir os seus consumos energéticos e as emissões associadas às fugas de gases refrigerantes dos equipamentos de frio e refrigeração, incluindo substituição de gases de refrigeração por gases naturais ou de baixo PAG.
As principais medidas de mitigação adotadas nas nossas operações são descritas ao longo deste subcapítulo. Reportamos ainda os riscos e oportunidades climáticos, de forma detalhada e pública, nas nossas respostas ao CDP (Disclosure Insight Action).
Relativamente às oportunidades de negócio na nossa cadeia de abastecimento, continuamos a assistir e a estimular o investimento dos nossos fornecedores na produção de energia renovável para autoconsumo, em particular para processos intensivos de energia (ex., processamento de matérias-primas como a torra do grão de café ou a refinação de açúcar), e na produção de matérias-primas, área na qual destacamos a crescente utilização de combustíveis de baixo carbono em máquinas agrícolas e a valorização de resíduos para a produção desses mesmos combustíveis. Estes investimentos dos nossos fornecedores em tecnologias de baixo carbono são fundamentais para a redução das emissões indiretas associadas às nossas compras de bens e serviços.
Na produção, a aposta em novas variedades, o investimento em colheitas mais resilientes às alterações climáticas e a diversificação dos países de origem são oportunidades identificadas pelos produtores (ver tabela seguinte).
País |
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Atividade |
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Oportunidade de negócio |
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Portugal |
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Produção |
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Produção de variedades mais resilientes às alterações climáticas, com aposta em técnicas naturais de seleção. |
Portugal |
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Produção |
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Produção em estufas ou recintos cobertos, com a garantia de produção ou de colheitas durante períodos em que as condições climáticas são menos favoráveis. |
Portugal |
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Produção |
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Incorporação de fontes alternativas de proteína, como algas e insetos, para melhoria da formulação de ração animal, com uma redução nas emissões de GEE associadas ao uso e alteração do solo no cultivo de commodities agrícolas. |
Portugal |
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Produção |
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Práticas de agricultura regenerativa, que visam melhorar a saúde dos solos de forma a regenerar e manter a fertilidade dos mesmos a longo prazo tornando, simultaneamente, as culturas mais resistentes a pragas. |
Polónia |
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Produção |
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Desenvolvimento de produtos de baixo carbono baseados em proteína vegetal e de projetos de remoção de carbono através da gestão agroflorestal, do uso do solo e da restauração de pântanos e florestas. |
Polónia |
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Processamento |
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Investimento em sistemas de cogeração e energia fotovoltaica para o processamento de leite. |
Portugal |
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Logística |
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Eletrificação e utilização de combustíveis renováveis (ex. bicombustível) na frota de pesados e ligeiros. |
Como retalhista alimentar, apresentamos um portfolio muito variado de produtos e temos uma rede logística madura e eficiente, o que garante a oferta nas nossas lojas de produtos similares ou alternativos em casos de disrupção pontual de abastecimento. O aumento de produção de alguns bens alimentares em regiões onde as alterações climáticas têm possibilitado aumentos de produtividade e o desenvolvimento de produtos inovadores e alternativos são as principais oportunidades que as Companhias têm explorado ao longo dos últimos anos. Um exemplo é o aumento de produção de fruta e legumes na Polónia, onde os invernos têm sido menos rigorosos.
Evolução
Em 2025, temos como objetivo continuar a trabalhar na avaliação dos riscos e oportunidades financeiros associados às alterações climáticas e reforçar a colaboração com a cadeia de abastecimento para:
- aumentar o conhecimento de alguns riscos climáticos emergentes, como por exemplo o impacte de eventos climáticos extremos nas nossas lojas e operações logísticas;
- considerar uma maior variedade de ingredientes no processo de identificação e avaliação de riscos e oportunidades de forma a abranger mais produtos de Marca Própria e perecíveis das nossas Companhias, nos diferentes países onde temos operações;
- melhorar o cálculo do risco financeiro inerente e residual através da integração das medidas de mitigação e adaptação identificadas na nossa cadeia de abastecimento;
- continuar a avaliar a resiliência climática da nossa cadeia de abastecimento e identificar iniciativas de transição para uma economia de baixo carbono;
- mapear e quantificar oportunidades de negócio associadas ao desenvolvimento de novos produtos e identificar origens alternativas ou potenciais aumentos de produção de algumas culturas em regiões com condições climáticas favoráveis.
1 Risco inerente refere-se ao nível de risco sem considerar estratégias de resposta a um determinado risco climático (físico ou de transição).