A desflorestação e a conversão do uso dos solos são práticas que resultam na perda significativa de florestas e de biodiversidade. A complexa relação entre a produção agrícola e a desflorestação realça a necessidade de práticas mais sustentáveis que equilibrem a produção de alimentos, a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconómico. Cerca de 90% da perda de florestas tropicais, em particular nas regiões da América do Sul e de África, deve-se à expansão das atividades agrícolas.

Enquanto retalhistas alimentares, reconhecemos a importância das commodities agrícolas para as nossas cadeias de abastecimento e a relevância das florestas e ecossistemas terrestres com Alto Valor de Conservação (AVC) no combate às alterações climáticas tanto pela sua capacidade de sequestro de carbono da atmosfera como pela biodiversidade que sustentam. Foi por esta razão que aderimos, em 2019, à Forest Positive Coalition of Action (FPCoA) do The Consumer Goods Forum, e assumimos compromissos para a gestão das principais matérias-primas associadas à desflorestação nos produtos e embalagens das nossas Marcas Próprias e perecíveis que contenham na sua composição óleo de palma, papel/madeira, soja e carne bovina. Esta coligação incentiva os seus membros a adotarem ações coletivas e individuais para eliminar a desflorestação e a conversão das florestas diretamente associadas às cadeias de abastecimento destas quatro commodities e a apoiarem a gestão sustentável, a conservação e o restauro das florestas, assegurando o respeito pelos direitos humanos.
Compromisso com o combate à desflorestação distinguido em 2024
Fomos, uma vez mais, reconhecidos pelo CDP Forests com o nível de liderança (A-) na gestão das commodities associadas à desflorestação avaliadas pelo CDP (Disclosure Insight Action): óleo de palma, soja, carne bovina e papel/madeira.
Este é um reconhecimento que obtivemos em 2019, 2020, 2022, 2023 e 2024, o que atesta a robustez e a consistência dos nossos compromissos e ações nesta matéria.
O nosso compromisso é garantir que, até ao final de 2025, o óleo de palma, a soja, o papel e madeira, e a carne bovina nos nossos produtos de Marca Própria e perecíveis não estão associados à desflorestação nem à conversão de ecossistemas (DCF – Deforestation and Conversion Free, na sigla inglesa), principalmente no que diz respeito às commodities utilizadas como um ingrediente direto nas nossas cadeias.
Reconhecemos que a presença destas commodities em cadeias complexas, como são os casos da soja utilizada na ração animal ou dos derivativos de óleo de palma, coloca problemas adicionais, pelo que o sector da distribuição alimentar promove o envolvimento dos diferentes agentes económicos ao longo da cadeia de abastecimento para, de forma colaborativa, fazer face a esses desafios. Para monitorizar o nosso progresso e identificar oportunidades de melhoria, mapeamos a presença de ingredientes associados à desflorestação nos nossos produtos de Marca Própria e perecíveis, recolhendo informação junto dos fornecedores quanto à origem e certificação de sustentabilidade, bem como sobre as suas respetivas políticas de combate à desflorestação.
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Quantidade total (toneladas) |
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Commodity |
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2024 |
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2023 |
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Δ 2024/2023 |
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Óleo de palma |
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77.667 |
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67.270 |
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15% |
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Soja |
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513.486 |
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499.206 |
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3% |
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Soja (direta) |
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21.061 |
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23.318 |
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-10% |
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Soja (indireta)1 |
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492.425 |
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475.888 |
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3% |
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Papel e madeira |
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212.152 |
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200.052 |
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6% |
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Papel e madeira (produtos)2 |
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170.751 |
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163.622 |
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4% |
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Papel e madeira (embalagens)2 |
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41.401 |
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36.431 |
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14% |
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Carne bovina |
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40.337 |
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41.094 |
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-2% |
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Óleo de palma
À semelhança do que aconteceu em anos anteriores, registámos uma tendência crescente de utilização de óleo de palma nos nossos produtos de Marca Própria, particularmente na Ara, na qual cerca de 90% deste ingrediente é utilizado em óleos vegetais para cozinhar, um produto muito relevante para o consumidor colombiano.

Em 2024, 100% do óleo de palma utilizado nas Marcas Próprias e nos perecíveis na Polónia e em Portugal detinha certificação RSPO (Roundtable on Sustainable Palm Oil), sendo a grande maioria certificada de acordo com o modelo “Mass Balance” e “Segregated”1. Na Polónia, a redução do uso de óleo de palma em Marca Própria deve-se à reformulação da composição de alguns produtos.
Esquemas de Certificação RSPO na Polónia e Portugal (2024)
Apesar de a Colômbia figurar entre os cinco maiores produtores mundiais de óleo de palma, a taxa de certificação RSPO no país é baixa. Esta realidade, combinada com a nossa estratégia de incentivar as compras locais nos países onde operamos, torna desafiante o objetivo de aumentar a certificação RSPO do óleo de palma produzido na Colômbia. Desde 2021 que a Ara faz parte do “Acuerdo de Voluntades para la Deforestación Cero en la Cadena de Aceite de Palma en Colombia” (Acordo de Vontades para a Desflorestação Zero na Cadeia de Óleo de Palma na Colômbia), com o objetivo de garantir que o óleo de palma utilizado nas nossas Marcas Próprias e perecíveis não contribui para a desflorestação. Este acordo, promovido pelo governo colombiano, é apoiado por várias organizações da sociedade civil, incluindo a RSPO, a Proforest, a Tropical Forest Alliance e a WWF. A iniciativa foca-se em ações que vão desde a rastreabilidade do óleo de palma (até ao nível da quinta de produção), garantindo que este ingrediente não está associado a desflorestação, e visa também assegurar que o óleo de palma importado possui certificação de sustentabilidade, como a RSPO.
Em 2024, 75% (menos 18 p.p. do que em 2023) do óleo de palma utilizado nos produtos de Marca Própria e perecíveis da Ara teve origem na Colômbia, do qual cerca de 66% tinha certificação RSPO (mais 54 p.p. do que em 2023). A redução do óleo de palma proveniente da Colômbia deveu-se à maior materialidade (20%), no sortido da Ara, da origem Equador para este ingrediente.
Em 2024, conseguimos rastrear a origem de 95% (mais 4 p.p. do que em 2023) do óleo de palma da Colômbia utilizado em produtos de Marca Própria e perecíveis até à zona da exploração agrícola onde foi produzido. Com base nesta informação, confirmámos que o óleo de palma provinha dos Departamentos de Norte de Santander, Cesar, Magdalena, Meta e Casanare, localizados em três das quatro áreas produtoras do país (Zona Central, Zona Oriental e Zona Norte) e de 25 (de 70) fábricas de processamento a operar na Colômbia. No entanto, apenas 0,75%2 da desflorestação identificada pelas entidades públicas em 2021 estava associada ao óleo de palma. A combinação dos níveis de rastreabilidade, a crescente certificação RSPO e do baixo índice de desflorestação associado ao óleo de palma na Colômbia valida a nossa estratégia DCF para esta commodity neste país.
Dos cerca de 25% do óleo de palma utilizado nos produtos de Marca Própria e perecíveis da Ara que não teve origem na Colômbia, 59% era certificado pela RSPO (menos 39 p.p. do que em 2023). Devido ao aumento já referido do consumo de óleo de palma do Equador, os principais fornecedores da Ara não conseguiram assegurar certificação RSPO para esta origem. Em 2025 iremos trabalhar em conjunto com os fornecedores para aumentar os níveis de certificação RSPO do óleo de palma importado, com o compromisso de assegurar que não está associado a desflorestação ou à conversão de ecossistemas de AVC.
Soja
Em 2024, apenas 4% do consumo total correspondeu a soja utilizada como ingrediente (soja direta), nomeadamente em óleos ou bebidas vegetais. A diminuição em 10% do consumo de soja direta resultou de reformulações na composição dos óleos alimentares vegetais contendo soja nos produtos de Marca Própria na Ara.

No que concerne à soja indireta, utilizada em rações para alimentação animal, representa mais de 95% do consumo total de soja associada aos nossos produtos de Marca Própria e perecíveis (tiers 2 a 4b3). A grande maioria da soja presente na nossa cadeia de abastecimento (80%) está associada aos perecíveis especializados nas categorias de carne e pescado de aquacultura (tier 2) e a perecíveis não-especializados, como os ovos ou os laticínios (tier 3). Os restantes 16% estão associados a alimentos processados que contêm como ingrediente produtos de origem animal (alimentados com soja), como refeições prontas e salsichas.
Cerca de 57% da soja estava associada à alimentação de aves (menos 4 p.p. que em 2023), 18% à alimentação de suínos (mais 4 p.p. face a 2023) e 10% à produção de ovos (menos 1 p.p. que em 2023).
Pegada de soja por tier (2024)
Pegada de soja por ingrediente (2024)
Mantivemos os nossos esforços de rastreabilidade e conseguimos aferir a origem, pelo menos até ao país de produção, de 95% do total de soja presente nas nossas cadeias de abastecimento (mais 2 p.p. face a 2023). Não conseguimos determinar a origem de 5% da soja. O progresso nos níveis de rastreabilidade da soja reflete o compromisso e o esforço conjunto dos nossos fornecedores em aumentar a rastreabilidade das suas próprias cadeias de abastecimento. Este trabalho com os nossos fornecedores será continuado em 2025, com foco especial na carne de aves, de porco e nos ovos, devido à sua relevância na nossa cadeia de abastecimento.
Cerca de 64% (menos 6 p.p. do que em 2023) da soja utilizada nos produtos de Marca Própria e perecíveis, principalmente no que diz respeito à soja indireta, foi proveniente de países com risco de desflorestação4, dos quais 17% (mais 7 p.p. do que em 2023) tinha certificação de sustentabilidade5, como RTRS e ProTerra.
Papel e madeira
Em 2024, a crescente procura por fibras de papel e madeira recicladas criou restrições no acesso às mesmas, levando a um aumento de 6% na nossa utilização de fibras virgens de papel e madeira em produtos de Marca Própria e perecíveis.
Cerca de 90% das fibras virgens utilizadas nos nossos produtos e embalagens de Marca Própria detinham certificação de sustentabilidade (FSC®, PEFC ou SFI), em linha com o nosso objetivo de assegurar 100% de certificação para produtos e embalagens de Marca Própria até 2030.

Foi possível rastrear a origem, pelo menos até ao nível do país, de cerca de 90% das fibras virgens utilizadas. Este exercício permitiu verificar que cerca de 16% (mais 10 p.p. do quem 2023) do total de fibras virgens de papel e madeira presentes em produtos e embalagens têm origem em países com risco de desflorestação não negligenciável ou desconhecida. Procurámos mitigar este risco através da incorporação de matéria-prima com certificação FSC®, PEFC ou SFI, que representou 85% do total das fibras virgens utilizadas que tiveram origem em países com risco de desflorestação não negligenciável ou desconhecida.
Produtos de papel e madeira
No caso das fibras virgens de papel e madeira presentes em produtos de Marca Própria, verificou-se um aumento do consumo face ao registado em 2023, devido ao lançamento de novos produtos e ao crescimento das vendas, em particular, na Biedronka.
Em 2024, conseguimos rastrear a totalidade das fibras virgens até ao nível do país de origem e identificámos que 6% provêm de países com risco de desflorestação não negligenciável6, das quais 79% provêm de florestas geridas de forma sustentável, uma vez que apresentam certificação FSC®, PEFC ou SFI.
Embalagens de papel e madeira
No caso do papel e madeira utilizados em embalagens, cerca de 80% das fibras são recicladas.
Nos restantes 20%, que correspondem a fibras virgens, identificámos que cerca de 58% são provenientes de países com risco de desflorestação não negligenciável ou desconhecida. Destas, 88% têm certificação FSC®, PEFC ou SFI.
Enquanto retalhista alimentar, esta é para nós uma cadeia de abastecimento complexa, uma vez que não adquirimos embalagens diretamente, o que torna a rastreabilidade das fibras virgens utilizadas nas embalagens muito difícil. No entanto, vamos continuar a trabalhar com os nossos fornecedores no sentido de aumentar a rastreabilidade das fibras virgens de papel e madeira que utilizamos.
Carne bovina
Em 2024, conseguimos mapear e rastrear toda a carne bovina utilizada nos nossos produtos de Marca Própria e perecíveis pelo menos até ao país de origem, tal como tinha acontecido no ano anterior. Com base neste trabalho, foi possível aferir que cerca de 0,4% do total da carne tinha origem no Brasil, um país com risco associado à produção de gado bovino7. Apesar da reduzida exposição que temos a este ingrediente, mantemos a nossa participação no grupo de trabalho de carne bovina no âmbito da FPCoA do CGF. Estamos comprometidos em integrar, em conjunto com os nossos fornecedores, práticas de produção mais sustentáveis de modo a criar sinergias e aumentar a partilha de informação entre os nossos fornecedores diretos e os meatpackers provenientes de países de risco não negligenciável.

Em 2024, demos continuidade aos nossos investimentos em iniciativas multi-stakeholder, com o objetivo de apoiar a preservação e a regeneração de ecossistemas, alinhados com os dez princípios estabelecidos pela FPCoA8.
Paisagens sustentáveis no Mato Grosso (Brasil)
Alinhados com os objetivos da FPCoA do CGF, em 2024 mantivemos o nosso apoio financeiro ao projeto no Mato Grosso, o estado brasileiro com maior produção agrícola, em colaboração com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM), a Nestlé e a Sainsbury’s. Esta iniciativa segue os dez princípios estabelecidos pela Coligação e permitiu, em 2024, o desenvolvimento de um modelo de governação local em mais dois municípios, Diamantino e Alto do Paraguai, e a consolidação do mesmo nos municípios de Campos de Júlio, Campo Novo de Parecis, Sapezal e Tangara da Serra.
O projeto registou progressos significativos em vários domínios, tendo-se iniciado a construção de um viveiro de sementes para promover a restauração de áreas degradadas. Esta ação está a ser realizada com o objetivo de promover sistemas agroflorestais que otimizam o uso do solo, através do equilíbrio entre a conservação do ecossistema e a produção agrícola.
Foi possível assegurar a certificação RTRS para a produção de soja de algumas propriedades e foram implementadas técnicas de agricultura regenerativa, promovendo o sequestro de carbono, a melhoria da fertilidade do solo e a redução da necessidade de utilização de produtos químicos.
No domínio das salvaguardas sociais, destacamos o desenvolvimento de um guia sobre os direitos humanos dos povos indígenas e comunidades locais, com o objetivo de promover o respeito pelas especificidades culturais e sociais nos processos de restauração de áreas degradadas e produção de soja.
Por fim, destacamos a revisão da legislação municipal de Tangará da Serra relativa aos pagamentos por serviços de ecossistemas, permitindo ampliar as opções de pagamento e dando prioridade aos esforços efetuados pelos agricultores na manutenção das bacias hidrográficas mais críticas.
O progresso alcançado até ao momento realça o sucesso das estratégias colaborativas de governação participativa, inovação técnica e envolvimento da comunidade.
1 Informação sobre estes sistemas de certificação está disponível no website da RSPO.
2 Dados revelados na análise do nível de desflorestação associada à produção de óleo de palma, realizada pelo IDEAM (2023)– Instituto de Hidrologia Meterorología y Estudios Ambientales e pelo Ministério do Ambiente Colombiano.
3 São contabilizados os cinco tiers de quantificação de soja na cadeia de valor, de acordo com a metodologia “Calculation guidelines for the measurement of embedded soy usage in consumer goods businesses” do CGF, disponível aqui.
4 Em 2024, a FPCoA reviu a lista de países considerados como tendo risco não negligenciável de desflorestação associado à produção agrícola de soja. São eles: Argentina, Brasil e Paraguai, tendo Bolívia e Uruguai saído da lista.
5 Em 2024, a FPCoA atualizou a sua lista de recomendação de esquemas de certificação DCF e Padrões de Sustentabilidade Voluntária (VSS). Informações detalhada está disponível aqui: Soy DCF Methodology
6 Os países considerados como tendo risco de desflorestação não negligenciável associado à produção agrícola de papel e madeira correspondem aos definidos nas guidelines do CGF (Argentina, Indonésia, Malásia, Estados Unidos da América e Vietname).
7 A FPCoA encontra-se a rever a lista de países considerados como tendo risco de desflorestação não negligenciável associado à produção de gado bovino. De acordo com a versão preliminar, estas origens representariam cerca de 3% do total da carne bovina das nossas Marcas Próprias e perecíveis.
8 Para informação detalhada, consulte o nosso website.